A Universidade do Porto conquistou sete das 14 bolsas de investigação científica em oncologia atribuídas este ano pela Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do Norte (LPCC-NRN). Cinco foram para investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), uma para o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e uma outra bolsa para a Faculdade de Farmácia. Este financiamento permitirá aos investigadores desenvolverem o seu trabalho pelo período de um ano.

Dos cinco projetos do i3S que foram distinguidos, três são sobre cancro colorretal, um dos cancros mais incidentes e o segundo mais mortal em todo o mundo, um outro sobre cancro da mama e outro sobre a plasticidade das células cancerígenas.

O projeto da investigadora Ana Baião, do grupo Nanomedicines & Translational Drug Delivery, propõe o desenvolvimento de nanopartículas carregadas com um agente quimioterapêutico especificamente dirigidas a células cancerígenas do cancro colorretal e combinar esta quimioterapia com imunoterapia. “Este tipo de tratamento tem o objetivo de potencializar a resposta imune quando administrado por via intravenosa e assim melhorar a eficácia do tratamento do cancro colorretal”, explica a investigadora.

Também na área do cancro colorretal, Catarina Azevedo, do grupo Immunology, Cancer Glycomedicine, pretende encontrar imunoterapias mais eficazes, uma vez que uma grande parte dos doentes com este tipo de cancro não responde ou desenvolve resistência à terapia. O principal objetivo do trabalho, sublinha Catarina Azevedo, “é explorar o impacto do metabolismo das células T na progressão do cancro, perceber se a modulação das vias metabólicas específicas das células T constitui uma oportunidade única para manipular a função e a atividade das células T e encontrar novas abordagens imunoterapêuticas”.

O projeto da investigadora Inês Sousa Conde, do grupo Epithelial Interactions in Cancer, centra-se no cancro da mama metastático, mais especificamente na identificação de biomarcadores associados às propriedades estaminais das células tumorais. “O nosso objetivo é definir, pela primeira vez, uma assinatura de estaminalidade tumoral específica associada a diferentes locais metastáticos, usando, para isso, um modelo celular de cancro de mama metastático, composto por uma linha parental e pelas suas variantes para o osso, cérebro e pulmã”», sublinha a investigadora.

Uma vez estabelecida essa assinatura específica para os diferentes locais metastáticos, “será possível compreender melhor os mecanismos moleculares que estão subjacentes à formação de metástases no cancro da mama, identificando biomarcadores de estaminalidade tumoral que poderão ser traduzidos para a clínica como fatores de prognóstico ou alvos terapêuticos”.

Já o projeto de João Barbosa surge na sequência de trabalhos anteriores realizados no grupo Cell Division & Genomic Stability do i3S, que identificaram que as células estaminais adultas do intestino de Drosophila melanogaster (mosquinha da fruta) com alterações cromossómicas (aneuploidia) conseguem sobreviver, multiplicar-se, potenciar o desenvolvimento de tumores e até invadir outros órgãos. O jovem investigador pretende agora compreender como é que estas células, em resposta à aneuploidia, adquirem esta capacidade de migrar para tecidos vizinhos.

“O plano de trabalhos do meu projeto inclui não só a caracterização da morfologia, adesão e polaridade celulares, mas também a descoberta de mecanismos de migração celular das células estaminais durante este processo. Esperamos que os nossos resultados possam gerar conhecimento de biologia fundamental num processo crucial na progressão desta doença, que é o fenómeno de metastização, servindo potencialmente de inspiração para desenhar novas terapias que previnam ou reduzam as hipóteses de células tumorais migrarem da sua origem”, antecipa.

É também a partir do i3S que Sara Canato vai procurar  avaliar o impacto da rigidez da matriz extracelular de células cancerígenas na progressão do cancro, utilizando resseções cirúrgicas de pacientes com cancro, resultado de uma colaboração com o Departamento de Patologia do Hospital de São João. Com esse objetivo, e tendo por base trabalhos anteriores desenvolvidos pelo grupo, o projeto da investigadora do investigadora  do grupo Cytoskeletal Regulation & Cancer centra-se no estudo do processo de transição epitelial para mesenquimal, que se acredita ser essencial para a disseminação de células cancerígenas.

Sara Canato pretende, assim, encontrar novas estratégias para pacientes com cancro, nomeadamente o desenvolvimento de novas intervenções terapêuticas capazes de remodelar a rigidez da matriz extracelular.

Exercício físico e canabitóides contra o cancro

As outras bolsas têm como destino as “vizinhas” FFUP e ICBAS. E é neste último, mais concretamente na Unidade de Investigação em Oncobiologia do ICBAS, que Ana Nogal vai procurar perceber o impacto direto do exercício físico regular no microambiente tumoral, que interage com as células tumorais e participa em todos os estadios do desenvolvimento do tumor. “Sabemos que o exercício físico tem sido um bom aliado no tratamento de diversas doenças e também em alguns tipos de cancro, pelo impacto positivo na aptidão física e no bem-estar psicológico dos pacientes», sustenta a investigadora.

Neste projeto agora financiado pela LPCC, pretende-se então “avaliar as interações entre o microambiente do tumor, o sistema imunológico do hospedeiro e as células malignas, analisando o impacto do Exercício físico regular” Para isso, “vamos usar um modelo animal de cancro de pulmão”, explica Ana Nogal. O trabalho está a ser desenvolvido em colaboração com o Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), Centro de Investigação em Atividade Física, Saúde e Lazer (CIAFEL), da Faculdade de Desporto da U.Porto (FADEUP), e Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) e visa “gerar novos conhecimentos na área que possam trazer benefícios para os doentes”.

Tendo como alvo o cancro da mama mais prevalente e que mais mulheres mata em todo o mundo (cancro da mama recetor de estrogénio positivo – ER+), o projeto liderado pela investigadora Cristina Almeida, da Faculdade de Farmácia, pretende, por sua vez, investigar o “potencial benefício clínico do canabidiol (CBD), um dos canabinóides não-psicoativos derivados da planta Cannabis sativa quando combinado com os inibidores da aromatase usados na clínica, em células de cancro da mama ER+ sensíveis e resistentes”.

Este trabalho será desenvolvido no Laboratório de Bioquímica da FFUP e na unidade de investigação UCIBIO.REQUIMTE com o grupo de investigação liderado pela investigadora Natércia Teixeira, supervisora deste projeto, e com a colaboração de Cristina Amaral e Georgina Correia da Silva. Com este projeto, o grupo pretende proporcionar novas ferramentas terapêuticas capazes de melhorar o tratamento do cancro e, assim, contribuir para uma maior qualidade de vida e bem-estar dos pacientes.