Identificar novos fármacos para a prevenção do cancro da pele, detetar novos biomarcadores aplicáveis no tratamento do cancro gastrointestinal, estudar terapias alternativas para a leucemia linfoblástica aguda e uma plataforma para testar novos agentes terapêuticos para o cancro de pulmão. Passam por aqui os objetivos dos quatro projetos de investigação da Universidade do Porto distinguidos com as “Bolsas de Investigação em Oncologia LPCC-NRN 2020”, atribuídas pela Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do Norte (LPCC-NRN).

Destinadas a jovens investigadores da instituições científicas da Região Norte, estas bolsas têm como objetivo apoiar – através de um financiamento individual de 12 mil eurosprojetos de investigação inovadores na área da oncologia. Do “bolo” total de 180 mil euros atribuídos pela LPCC-NRR, 48 mil servirão assim para financiar projetos da U.Porto.

É o caso do trabalho que Álvaro Martins vai desenvolver nos laboratórios do grupo «Glycobiology in Cancer» do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S). Liderado pelo investigador Celso Reis, o projeto propõe-se a “explorar a presença de glicanos (açucares) nos exossomas [vesículas extracelulares libertadas pelas células e que lhes permite comunicarem entre si] associados ao cancro gastrointestinal”. Se tudo correr bem, Álvaro Martins quer “contribuir para a identificação de novos biomarcadores com potencial aplicação na clínica e novos alvos para estratégias terapêuticas”.

Para o jovem investigador, ter conquistado esta bolsa logo após ter terminado o mestrado “significa uma grande oportunidade para começar uma carreira na investigação”. Para além disso, “representa também um privilégio enorme e uma grande responsabilidade”.

Álvaro Martins é investigador no «grupo «Glycobiology in Cancer» do i3S. (Foto: LPCC)

“Fazer aquilo que mais nos entusiasma”

Ambicioso é também o projeto que Ana Nogal está já a desenvolver, sob orientação do investigador António Araújo, na Unidade de Investigação em Oncobiologia da Unidade Multidisciplinar de Investigação Biomédica (UMIB), sediada no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). Neste trabalho, a bióloga de formação” – pela FCUP, com mestrado na FMUP e doutoramento pelo ICBAS – propõe-se a “criar plataformas 3D biomiméticas de cancro de pulmão para testes de agentes terapêuticos, incluindo os usados na imunoterapia”.

Apesar de o cancro do pulmão continuar a ser “a forma mais incidente de cancro em todo o mundo” e “a principal causa de morte por cancro em homens e a segunda em mulheres”, a investigadora lembra que “avanços recentes na imunoterapia têm conseguido aumentar a sobrevivência e qualidade de vida de doentes com esta patologia”. Por isso mesmo, “o trabalho que estamos a desenvolver em colaboração com o CHUP, o i3S e o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho é de grande importância, pelo conhecimento que irá gerar mas também pelos benefícios para os doentes”.

Relativamente à bolsa da LPCC, Ana Nogal acredita que ” vem ajudar investigadores como eu a dedicar-se a tempo inteiro a projetos de investigação na área da Oncologia e a fazer aquilo que mais nos entusiasma”.

Ana Nogal vai desenvolver o seu trabalho na Unidade de Investigação em Oncobiologia da UMIB/ICBAS. (Foto: LPCC)

“Uma estratégia promissora”

Já o projeto de Nair Nazareth Campos, investigadora pós-doc do Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV-REQUIMTE) na Faculdade de Farmácia da U.Porto (FCUP), visa a identificação de “novas alternativas farmacológicas na prevenção do cancro da pele, usando reativadores de formas mutadas da p53”.

Para a jovem investigadora, que será orientada por Lucília Saraiva, é “uma honra estar entre os trabalhos merecedores deste incentivo”.  Quanto à bolsa, Nair Campos garante que será uma “forte motivação para dar continuidade ao projeto”, não apenas pela importância do tema, mas “por se tratar de uma estratégia promissora para proteger a pele da formação de tumores induzidos por radiação ultravioleta.”

Nair Nazareth Campos é investigadora pós-doc do LAQV-REQUIMTE na FFUP. (Foto: LPCC)

“Um voto de confiança”

De regresso aos laboratórios do i3S, encontramos Telmo Catarino, cujo trabalho foca-se no estudo da leucemia linfoblástica aguda, o tipo de cancro mais frequente em crianças, e nas recidivas mais frequentes, que são também as mais resistentes à terapia e mais letais. O objetivo do investigador é “contribuir para o desenvolvimento de terapias alternativas e específicas para leucemias que afetam o sistema nervoso central, que constituem atualmente um obstáculo terapêutico e um dos principais fatores de mortalidade”.

A desenvolver o seu trabalho de investigação no grupo do i3S «Genetic Dynamics of Cancer Cells», sob supervisão de Nuno Rodrigues dos Santos, Telmo Catarino explica que esta bolsa “é um reconhecimento da importância e da pertinência do projeto, e para além de ser um incentivo a nível pessoal, é também um voto de confiança na minha capacidade para o seu desenvolvimento”.

Telmo Catarino é investigador no grupo «Genetic Dynamics of Cancer Cells» do i3S. (Foto: LPCC)

No total, a Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do Norte (LPCC-NRN) atribuiu este ano 15 bolsas de investigação em oncologia, no valor global de 180 mil euros. A assinatura dos contratos de atribuição das bolsas teve lugar no passado dia 4 de fevereiro, numa cerimónia realizada no auditório do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro.