Uma das licenciaturas em Bioquímica mais antigas de Portugal, a Licenciatura em Bioquímica da Universidade do Porto, comemora, este ano, 40 anos de existência. Uma data que foi assinalada pela Faculdade de Ciências (FCUP) e pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) com um programa de palestras e mesas-redondas sobre a investigação na área da Bioquímica.

A segunda – e última – sessão das comemorações decorreu no dia 18 de maio, no Salão Nobre do ICBAS. Uma ocasião aproveitada pelo Diretor do ICBAS para salientar a relação “longa e feliz” entre o Instituto e a FCUP.

“De facto, 40 anos já começa a ser uma história longa. Percebo que na altura tenha sido muito complicado constituir-se este modelo que articulava com outras unidades orgânicas o mesmo objetivo. Este projeto que começou há 40 anos tece o mérito de juntar profissionais de excelência, numa abordagem que prima pela diferenciação e a qualidade”, destacou Henrique Cyrne Carvalho, deixando os votos para “mais 40 anos de sucesso!”.

A mesma ideia foi partilhada pela Diretora da FCUP, que frisou que a ligação com o ICBAS “está para durar”. “Como este, há muitos mais projetos de novos cursos com o ICBAS”, projetou Ana Cristina Freire, reconhecendo que “o sucesso da licenciatura [em Bioquímica], como o sucesso do nosso grupo, tem muito a ver com os professores que nos ajudam em todas as nossas atividades e em tudo o que propomos.” E acrescentou: “o comum a todos os estudantes que acabam a licenciatura em Bioquímica é o quão bem este curso os prepara para o futuro”.

As comemorações dos 40 anos da Licenciatura em Bioquímica arrancaram a 5 de abril, com uma sessão na FCUP. (Foto: DR)

Claudio Sunkel, Diretor do Departamento de Biologia Molecular do ICBAS e Diretor do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), destacou por sua vez que “os nossos estudantes de Bioquímica estão em todo o lado, e esta licenciatura e esta casa são uma chancela e uma mais valia para o futuro dos alunos que a frequentam”.

Docente na licenciatura há 30 anos, Sunkel lembrou que a história da Licenciatura em Bioquímica é também “uma história de um grupo de investigadores portugueses que descobre e caracteriza doenças, que descobre e caracteriza a causa da doença e, por fim, resolvem o problema de como tratar a doença”. Trata-se, por isso, de “uma história que nos orgulha muito a todos os departamentos do ICBAS e à Universidade do Porto”.

Por último, para o Diretor da Licenciatura em Bioquímica, Vitor Costa, os 40 anos da Licenciatura em Bioquímica da U. Porto são um marco que a Direção e a Comissão Científica do curso “não poderiam deixar de se celebrar”.

Salientando que foi um “privilégio contar com a participação de vários docentes e investigadores, muitos deles Bioquímicos formados na U.Porto, a trabalhar em diversas regiões de Portugal”, o responsável do curso realçou igualmente a qualidade das palestras e mesas-redondas realizadas no âmbito das comemorações. Iniciativas que “permitiram mostrar a excelente atividade científica desenvolvida na área da bioquímica e áreas afins”.

Homenagem a Maria João Saraiva

A sessão de encerramento dos 40 anos da Licenciatura em Bioquímica incluiu ainda uma homenagem a Maria João Saraiva, cientista de renome na área da Neurobiologia e um dos três docentes – juntamente com Maria João Ramos e Baltazar de Castro, ambos da FCUP – que foram homenageados no âmbito das celebrações, pelo papel de grande relevo que desempenharam na implementação e desenvolvimento do curso.

Licenciada em Biologia pela FCUP (1976), Maria João Saraiva repartiu a sua formação em Bioquímica entre a Universidade de Londres e a Universidade do Porto, pela qual se doutorou em 1984.

Com uma carreira de mais e 40 anos ligados à docência e investigação em Bioquímica, é Professora Catedrática aposentada do ICBAS, tendo trabalhado ainda como cientista visitante na Universidade Columbia, em Nova Iorque.

Maria João Saraiva com Pedro Moradas Ferreira, Professor Catedrático aposentado do ICBAS e outro “histórico” da Licenciatura em Bioquímica, juntamente com nomes como Alexandre Quintanilha ou Carlos Corrêa. (Foto: ICBAS)

A nível científico, dedica-se há mais de 30 anos ao estudo da Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF) – também conhecida como paramiloidose -, boa parte dos quais enquanto coordenadora do Grupo de Neurobiologia Molecular do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), hoje integrado no i3S.

Autora de mais de mais de 250 artigos publicados em revistas especializadas e convidada regular em reuniões internacionais, foi distinguida com o Prémio Gulbenkian Ciência 2009 pelo trabalho desenvolvido no estudo dos mecanismos bioquímicos e genéticos da que é vulgarmente conhecida como “doença dos pezinhos”.

Assim como o nome do neurologista Corino de Andrade ficou ligado à descrição desta doença, o de Maria João Saraiva está vinculado à descoberta dos mecanismos bioquímicos e genéticos responsáveis pela doença, nomeadamente a formação de depósitos de moléculas de amiloide derivada de Transtiberina (TTR), especialmente nos nervos periféricos. A partir destas descobertas fundamentais, a investigadora alargou o seu campo de investigação às vias de sinalização que desempenham um papel importante em situações de lesões cerebrais, particularmente no quadro da doença de Alzheimer.

A homenagem a Maria João Saraiva contou com a presença de vários antigos estudantes que se doutoraram sob a sua orientação. (Foto: ICBAS)

A excelência do percurso de Maria João Saraiva mereceu, de resto, um “obrigado” especial por parte de Claudio Sunkel. “Esse muito obrigado não é só por ser uma pessoa fantástica. É um muito obrigado por tudo o que ela fez no ensino da Bioquímica, na ciência em Portugal e, ainda, pela contribuição que deu para a compreensão das doenças neurodegenerativas”, referiu o diretor do i3S.

Entre as inúmeras distinções de que foi alvo ao longo da sua carreira, incluem-se ainda o Prémio Seiva de Serviços à Ciência da Câmara Municipal do Porto (1996) e a Medalha de Mérito Científico atribuída pelo Governo, em 2019, pela sua contribuição para o desenvolvimento da ciência no país.