Lagartixa-da-montanha, Iberolacerta montícola (Foto: Miguel A Carretero)

Num artigo publicado na última edição da prestigiada revista Nature Communications uma equipa internacional, da qual fazem parte os investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO-InBIO) James Harris, Daniele Salvi, Anamarija Žagar e Miguel Angel Carretero, revela que a evolução dos lagartos do velho mundo ocorreu por adaptações fisiológicas ao clima, levando ao surgimento de diferentes espécies nos mais variados ambientes. Contudo, o aumento das temperaturas provocado pelas alterações climáticas globais poderá por em risco a sobrevivência de muitos destes lagartos.

Os lagartos são animais de sangue frio e dependem da radiação do sol para regular a temperatura do corpo. Ainda assim, estes animais não estão restritos às zonas mais quentes e podem ser encontrados nos mais diversos ambientes. Muitas populações de lagartos estão a decrescer como consequência do aumento da temperatura global associado às alterações nos regimes de chuva, perda de habitat e fragmentação. Mas como prever o efeito das alterações climáticas, nomeadamente da temperatura, na sobrevivência dos lagartos nos diferentes ambientes?

Foi para responder a esta pergunta que uma equipa de 45 investigadores de 17 países uniu a análise genómica ao estudo da fisiologia de um grupo de lagartos amplamente distribuído pela Europa, Ásia e África, conhecidos como Lacertídeos.

Conforme revela Miguel Carretero, investigador do CIBIO-InBIO e coautor do artigo, “os resultados deste estudo demonstram, que apesar de os Lacertídeos terem surgido num período de clima quente, à medida que a temperatura do planeta posteriormente arrefeceu, um grupo de espécies, que inclui muitas das agora presentes em Europa, adaptarou-se e passou a ocupar regiões de clima frio. O que lhes foi adequado para o passado pode agora colocar estas espécies  no limite da extinção se a tendência atual de aquecimento do clima continuar”, avisa o investigador.

Para chegar a esta conclusão os autores analisaram o genoma de mais de 260 espécies de Lacertídeos a fim de compreender  a história evolutiva destes lagartos. Os investigadores também conduziram experiências, através dos quais puderam determinar a temperatura preferida destes animais e sua tolerância à perda de água em condições áridas. Conforme já observado em outros lagartos, o estudo agora publicado aponta que muitas espécies de Lacertídeos vivem hoje em ambientes onde as condições climáticas são muito próximas dos limites da sua fisiologia.

Estas observações indicam que a sobrevivência de muitas espécies poderá estar ameaçada considerando a tendência atual de aumento rápido nas temperaturas. Por este motivo os autores identificam dois grupos de especial interesse e prioritários para conservação: os Lacertídeos de zonas tropicais e os que habitam zonas de clima temperado, como a Europa, nomeadamente espécies adaptadas às montanhas e a ambientes frios e húmidos.

“Na península Ibérica, a diversidade de lagartos abrange espécies adaptadas tanto a climas quentes e secos quanto a frios e húmidos. De acordo com nosso estudo, as espécies de climas frios e húmidos serão as mais expostas às mudanças previstas no clima, entre elas espécies endémicas como a Lagartixa-da-montanha, a Lagartixa-de-Carbonell e a Lagartixa-de-Valverde. Contudo, se nada for feito para minimizar os efeitos das alterações climáticas a curto prazo outras espécies com características fisiológicas similares podem ser igualmente afetadas”,  alerta Miguel Carretero.