Mais de metade dos adolescentes inquiridos gastam, em média, mais de 2 horas por dia a ver televisão. (foto: DR)

Para além de estar associado ao sedentarismo, muito tempo gasto em frente à televisão tem efeito nas escolhas alimentares dos jovens: adolescentes que gastem, em média, mais de duas horas por dia a ver televisão estão mais propensos a consumir alimentos com maior teor de gordura e de açúcar. Quem o afirma são investigadores do Instituto de Saúde Pública da U.Porto (ISPUP), num artigo científico que acaba de ser publicado na revista internacional “Nutrition”.

Entre os comportamentos normalmente associados à alimentação, a exposição à televisão é particularmente importante, dado o número de adolescentes que atinge. Também um maior número de horas gastos nesta atividade tem sido associado a menor atividade física a um maior consumo alimentar. Assim, os investigadores do ISPUP partiram com o objetivo de estudar os resultados desta associação entre tempo gasto a ver televisão e a ingestão alimentar em adolescentes de 13 anos.

Ao longo do  trabalho, foi avaliada a informação de 1436 adolescentes (participantes no estudo Epiteen). A todos eles foi pedido que indicassem quanto tempo gastavam em diversas atividades, entre as quais, ver televisão. Estas perguntas foram feitas separadamente para os dias da semana e de fim de semana, tendo sido calculada uma média diária – os autores verificaram que mais de metade (cerca de 52%) dos adolescentes de 13 anos gastavam, em média, mais de 2 horas por dia a ver televisão. Também a ingestão alimentar foi avaliada através de um questionário, que inquiriu sobre a frequência de consumo de diversos itens de alimentos e grupos de alimentos.

A equipa de investigadores do ISPUP concluiu que os adolescentes que reportaram maior exposição à televisão (um tempo superior a 120 minutos diários) apresentavam um consumo mais elevado de alimentos com maior conteúdo em gorduras e açúcares, negligenciando o consumo de fruta e produtos hortícolas. Em pormenor, verificou-se ainda que as raparigas com maior exposição apresentaram uma menor ingestão de hidratos de carbono complexos, fibra, vitaminas A e C, ácido fólico, cálcio, ferro, fósforo e potássio; os rapazes, uma maior ingestão de gordura saturada e colesterol.

Os resultados demonstram que este comportamento condiciona uma ingestão nutricional menos saudável e pode ter repercussões na saúde a longo prazo, não se limitando apenas a um maior risco de obesidade. Para Elisabete Ramos, primeira autora do artigo, estes resultados “ilustram a complexidade dos comportamentos e expressam a importância de intervenções de promoção de saúde que não estejam focadas num único tópico mas desenhadas integrando múltiplos determinantes de saúde”. A também coordenadora do projeto Epiteen realça a importância destas informações, sublinhando que é “fundamental conhecer a realidade da nossa população para o planeamento de políticas de saúde”.

Sobre o Epiteen

O EPITeen, que tem como objetivo principal compreender de que forma os hábitos e comportamentos da adolescência se vão refletir na saúde do adulto, começou em 2003 e, desde então, acompanha o desenvolvimento de cerca de 3000 adolescentes nascidos em 1990. Estes adolescentes foram também avaliados aos 17 e aos 21 anos, pretendendo-se que continuem a ser acompanhados ao longo da vida. Em cada uma destas avaliações, uma equipa multidisciplinar de profissionais de saúde recolheu informações através de questionários, efetuando também medições objetivas (como a pressão arterial, o peso e a estatura, a densidade mineral óssea), complementadas com análises sanguíneas.

O projeto tem tornado possível a recolha de um vasto conjunto de informação sobre características de saúde destes adolescentes, tal como a incidência de obesidade, pressão arterial ou massa óssea, assim como permitiu conhecer a evolução dos seus comportamentos em várias dimensões, como por exemplo, o consumo de substâncias (como álcool, tabaco ou drogas), hábitos alimentares e prática de desporto.