Jorge Melícias e André Tecedeiro são os poetas que se seguem. Apagamos as luzes e deixamos a palavra entrar e a voz tamborilar na pele. Seja bem-vindo às próximas sessões imersivas de poesia promovidas no âmbito do ciclo Ouvir: 59 minutos de imersão poética, resultado de uma parceria entre a Reitoria da Universidade do Porto e a Porto Editora. Dias 16 de novembro e 7 de dezembro, às 18h30, nem é preciso bater, basta entrar no auditório da Casa Comum.

Começamos, então, pela tarde de terça-feira, dia 16 de novembro. Na coleção elogio da sombra (catálogo com curadoria de Valter Hugo Mãe), Jorge Melícias publicou a oratória dos mansos. Para além da reunião da poesia do autor, a obra – publicada em 2020, pela Porto Editora – apresenta um livro de inéditos, eu morrerei deste século às mãos de quem?

Composto por sonetos, este livro é descrito por Valter Hugo Mãe como um “surpreendente poemário” que “dessacraliza o verso, assumindo-o enquanto performático”. Para o curador da coleção, a obra de Jorge Melícias é como “(…) uma fúria concêntrica, reduzindo o espectro do que é possível dizer para abarcar apenas uma essência de pendor utópico e já tão eloquente quanto louca”.

Para além da extensa produção poética, Jorge Melícias tem também sido responsável por traduzir para português a obra de vários autores, entre os quais Saint-John Pearse, Leopoldo María Panero, Rosario Castellanos ou ainda Martín López-Vega.

Jorge Melícias vai apresentar alguns dos sonetos presentes na obra “a oratória dos mansos”, publicada em 2020. (Foto: Gregório Brunning)

A última sessão do ano acontece a 7 de dezembro e traz um escritor que Valter Hugo Mãe considera ser um dos mais importantes poetas portugueses deste século. O protagonista é André Tecedeiro, poeta e artista plástico. A axila de Egon Schiele (poesia reunida 2014-2020), da Porto Editora, é o título que reúne toda a sua obra poética.

“Às voltas com as questões do corpo, a profundidade da sua poesia breve e de aparência simples apresenta-se como uma hipótese de completude” afirma Valter Hugo Mãe. “O homem que Tecedeiro implica é aquele que falta, o que faz falta, o que ainda nos pode ensinar e deslumbrar. (…) Apela à minha sensibilidade sobretudo o jeito que tem de se estudar sem sucumbir à angústia. Não lhe falta contundência, clareza ou sobriedade, mas não se entrega exctamente a um aparato trágico de efeitos alardes ou exagerados. É um pensador junto à ciência possível. Interessa-lhe conhecer e mudar. Interessa-lhe a arte e a sabedoria, como se estivesse ao pé de educar a própria natureza. Ao pé de educar o corpo”, acrescenta o escritor e coordenador da coleção elogio da sombra.

André Tecedeiro vai trazer À Casa Comum alguns excertos de “A axila de Egon Schiele (poesia reunida 2014-2020)”, obra publicada em 2020. (Foto: DR)

A entrada nas sessões é livre, mas limitada à lotação da sala.

Sobre André Tecedeiro e Jorge Melícias

André Tecedeiro nasceu em Santarém em 1979, mas vive e trabalha em Lisboa. Estudou Escultura e Pintura (licenciatura) na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Artes Visuais Intermédia (mestrado) na Universidade de Évora e Psicologia na Universidade de Lisboa, com especialização em Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações.

Enquanto artista plástico, realizou mais de cinco dezenas de exposições e foi nomeado para os prémios Fuso (2015); Cena d’Arte (2004); Celpa-Vieira da Silva (2003); Fidelidade Jovens Pintores (2002). A sua poesia foi tema de uma sessão do Clube dos Poetas Vivos, (Teatro Nacional D. Maria II, 2019), de uma leitura encenada do ciclo Da Voz Humana (Livraria Ferin, Lisboa, 2019) e de diversos programas de rádio e podcasts. Escolheu o seu próprio nome, que usa legalmente desde 2017.

Jorge Melícias nasceu em 1970, em Coimbra. É autor de vários livros de poesia como disrupção (2009), alvídrio (2013) e hybris (2015). Como tradutor, verteu para português, entre outros, Saint-John Perse, Leopoldo María Panero, Antonio Gamoneda, Miriam Reyes, Hugo Mujica, María Negroni, Saint-Pol-Roux, Rosario Castellanos, José Antonio Ramos Sucre, Martín López-Veja, Julio Llamazares, José Sbarra, uma Antologia da poesia cubana contemporânea e uma Antologia de poetas suicidas de língua espanhola, mortos entre o princípio do séc. XX e o princípio do séc. XXI.

Tem poemas traduzidos para línguas como o espanhol, o inglês, o francês, o finlandês, o servo-croata, o letão ou o lituano e publicados em várias antologias e revistas, nacionais e estrangeiras, como a Inimigo Rumor, a Confraria do Vento, a Zunái ou a Coyote (no Brasil), a Literatura ir Menas ou a Naujoji Romuva, de Vilnius, a 26, studies of poetry and poetics, ou a 2nd Mind, de São Francisco.