É músico, DJ, vocalista, compositor, produtor… Um imaginador de fundo, ou um poço de “alter – egos” que, desta vez, criou uma personagem com história. São as Voices in my head (and I don’t know / if they fade away)”, diz-nos o título do single a transpirar do último LP vinil homónimo Wolf Manhattan. João Vieira vai estar na Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto, na noite de 27 de abril, à conversa com a socióloga e professora no Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), Paula Guerra. E há muito por onde esgravatar e descobrir…

Essência de camaleão

Já dançamos sobre a sua batuta… Quem não? Depois conhecemos outros projetos como X-Wife e White Haus, até chegar ao último projeto do “camaleão”, agora lobo, um vinil cuja capa é também um jogo de tabuleiro (com perguntas sobre as canções) e que traz ainda um livro que nos conta o percurso desta personagem (The Story of Wolf, edição de artista, em jeito de fanzine, mas de capa grossa, com ilustrações de Toby Evans-Jesra).

João Vieira iniciou a sua carreira em Londres no final dos anos 1990, onde se formou em design gráfico. Trabalhou como DJ, músico e promotor de clubes. Em Portugal, editou cinco álbuns com os X-Wife, banda que fundou e da qual é compositor, vocalista, guitarrista e co-produtor.

Como DJ Kitten e o Club Kitten, inscreveu, a partir do Porto, a sua identidade na “cena clubbing” nos anos 2000.  Em 2013, com White Haus, deu início à aventura da composição e produção eletrónica. O resultado deste processo foi a edição de um ep, três álbuns e vários concertos de Norte a Sul do país. Foi em 2022 que lançou o álbum de Wolf Manhattan, o novo projeto a solo onde encarna esta nova “persona”.

Quem é este lobo solitário? Há outras vozes para conhecer?… Antes que esmoreçam. A 27 de abril, a partir das 21h30, a entrada é livre até ao limite da lotação da sala.

Mr. Wolf Manhattan

Ainda com o olhar preso no “fantasma” que está nas teclas, eis que atravessa o palco uma cabeça de coelho com dois dentes de fora e bigodes espevitados. Pouco depois, a esta performance teatral com um travo circense, junta-se um crocodilo azul de unicórnio amarelo. Presa ao teto, e a brilhar em todas as direções, está uma bola de cristal vintage. É assim que, minutos depois, altiva, entra uma cabeça laranja, a comandar um fato azul e branco, aos quadrados, que se prolonga até ao sapato branco. O movimento de centrifugação começa e a máquina do tempo leva-nos até aos anos 1980 e 1990. Tudo é estranho e tudo é familiar, ao mesmo tempo. O elástico da imaginação estica das festas de baile e dos espetáculos de circo até ao primeiro andar de um prédio, em Nova York. Quem tinha lido a história já sabia, antes de entrar, que Wolf (personagem tímida e solitária como só um lobo pode ser) viveu em Manhattan, no primeiro andar de um prédio que tinha uma loja de discos por baixo, propriedade de um tio. De resto, já todos sabemos, que se aconteceu na cidade feita de sonhos, pode acontece em qualquer outra. Até no Porto, onde Mr. Wolf Manhattan, há uns meses, se apresentou em concerto.

No final da performance, que foi ainda um concerto, todas as crianças (sim, havia crianças a assistir) perderam a vergonha e saltaram para o palco… Os adultos já não, mas abandonaram a sala “novinhos em folha”. A imaginar que estavam em Nova York e a acreditar que tudo é, realmente, possível. E que qualquer um, seja em que altura for, se pode reinventar.

Wolf Manhattan (Foto: DR)