João Matias estudou Engenharia Mecânica na FEUP. (Foto: DR)

Desde cedo demonstrou interesse por tudo o que envolvesse mecanismos, raciocínio lógico e tecnologias. Seguir uma carreira na Fórmula 1 ou numa grande empresa de aviação (idealmente como piloto ou, como alternativa, no “backstage”) fazia parte dos objetivos de João Matias e, como tal, a escolha do Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica desde logo lhe pareceu a mais indicada. Já a preferência pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) deveu-se à inegável reputação associada a estas áreas: ‘seria uma honra concluir o curso numa faculdade tão prestigiada’, refere.

Natural de Leiria, mas a viver atualmente em Leça da Palmeira, João frequentou a FEUP de 2008 a 2012. E se inicialmente os seus objetivos passavam por concluir os estudos e só depois avançar rumo ao sonho de ser piloto, o ano de 2012 marcou o momento de “viragem”: surgiu a oportunidade de viajar para a Flórida e tirar o curso de piloto por intermédio de um amigo de Leiria que já o havia feito. Com a ajuda e apoio indispensáveis dos seus pais decidiu arriscar, suspendeu o curso e voou para o outro lado do oceano.

O curso, extremamente intensivo e com pouco tempo para pausas, decorreu de dezembro de 2012 a maio de 2014. Graças à sua excelente prestação, a própria escola acabou por lhe oferecer a oportunidade de permanecer na instituição como Instrutor de Voo, oportunidade que aceitou sem pestanejar e que abraçou até abril de 2016, altura em que regressou à Europa para trabalhar na Ryanair, companhia aérea que ainda hoje integra.

E não, não se consegue ser piloto de um dia para o outro. Depois de ingressar na empresa aérea irlandesa, João começou com aulas teóricas em abril e só em setembro pôde voar! Afinal, são muitos os procedimentos a estudar.

Todos os pilotos passam por um curso muito intensivo de dois meses (entre aulas teóricas e simuladores) para se qualificarem à condução do Boeing 737. Além disso, esta é uma profissão de estudo contínuo. Na Ryanair, por exemplo, é realizada uma avaliação semestral com exames escritos e com 15 horas de simulador nas quais é necessário lidar com várias situações de emergência e com problemas técnicos.

Piloto natural de Leiria é a prova de que, com determinação e perseverança, o limite está para lá do céu. (Foto: DR)

Como em todas as profissões, existem momentos mais desafiantes. E se esses momentos forem vividos a vários milhares de pés de distância do solo, a adrenalina é verdadeiramente posta à prova: num dos voos que instruiu, pouco tempo após a descolagem, foi detetada uma falha de motor (num avião monomotor) que não voltou mais a pegar. Como lidar com uma situação assim? João conta que “a chave para manter a calma é o conhecimento!”. Imediatamente tomou os controlos e voltou a apontar o avião para o aeroporto. Completou os procedimentos necessários, reportou à torre de controlo a situação de emergência, fez uma boa gestão de velocidade e altitude e conseguiu aterrar o avião numa das pistas do aeroporto de onde tinham descolado com sucesso.

Mas a verdade é que esta profissão tem tanto de exigente quanto de maravilhoso: “Não há nada mais gratificante do que acabar o dia sem que haja algo de novo para contar. É sinal de que fizemos o nosso trabalho com a máxima responsabilidade e competência, em que correspondemos à confiança que os nossos passageiros depositaram em nós”, conta o antigo estudante da Faculdade de Engenharia. “A sensação de pilotar um avião, seja ele um Cessna ou um Boeing, é algo indescritível que não passa com o tempo. A liberdade de voo e a facilidade com que viajamos de avião hoje em dia é algo que as pessoas já tomam por garantido. A segurança e a fiabilidade destas máquinas são um feito tremendo que continua a evoluir com o passar dos dias”, acrescenta.

Outra das vantagens associadas a este cargo é a possibilidade de conhecer o mundo. De todos os países que já teve a oportunidade de visitar, João mantém o seu fascínio pela cultura norte-americana, em especial por Nova Iorque, mas não deixa de referir “a sensação indescritível que é sobrevoar território nacional”.

Planos para o futuro? Sim, o alumnus de Engenharia tem tudo muito bem definido: em 2019 vai fazer o upgrade para escalar de Copiloto a Comandante, função que quer exercer até à idade da reforma (65 anos). Depois disso, apesar de já não ser possível voar a nível comercial, pretende continuar a dar instrução.

Mas então, de que forma entra a FEUP nesta equação? As palavras saem da própria boca de João Matias: “A FEUP faz parte do meu percurso, foi onde fiz amigos para a vida. Para mim sempre será um orgulho dizer que frequentei a FEUP, onde adquiri bases muito sólidas, conhecimentos matemáticos aprofundados e lidei com verdadeiros cérebros da Engenharia portuguesa”. Caso para dizer que a Faculdade de Engenharia foi a “rampa de lançamento” rumo às nuvens e mais além!