No passado dia 24 de novembro, os estudantes do 1.º ano dos cursos que iniciaram o período letivo no dia 6 de outubro perfizeram exatamente 50 dias como estudantes da Universidade do Porto. Esta é uma fase de adaptação, caracterizada “pela intensidade e pela turbulência emocional em que no mesmo dia é possível sentir-se euforia ou uma profunda tristeza e angústia”, explica Isabel Lourinho, psicóloga responsável pelo Gabinete de Apoio ao Estudante (GAE) do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).

As mudanças que os jovens-adultos acabados de sair do ensino secundário enfrentam podem tornar-se verdadeiramente ameaçadoras, dependendo do modo como são percecionadas.

A escola pequena e familiar onde todos se conhecem é substituída por estruturas grandes e movimentadas por rostos desconhecidos. O acompanhamento da figura do diretor de turma e o contacto permanente com os encarregados de educação deixam de existir. É exigido ao estudante que seja autónomo e responsável, que seja capaz de “decidir a quais aulas vai, por que livro (da imensa bibliografia recomendada) e por que apontamentos se deverá guiar”, bem como “quais os eventos a que poderá ir e quando, onde e com quem estudar”, acrescenta a psicóloga doutorada em biomedicina.

E para além da necessidade de conciliar o maior volume de matéria a estudar com as atividades extracurriculares, é preciso arranjar espaço para cultivar as relações de amizade com os novos colegas ou os amigos de sempre, com a família e com o namorado.

Para quem é deslocado, existem preocupações complementares. É necessário “encontrar uma casa com uma renda acessível, numa boa localização, com o mínimo de condições e, já agora, com bons colegas. Lavar a roupa e passar, cozinhar, arrumar a casa, pagar as contas e gerir o dinheiro para o resto de outras despesas que podem surgir”, enumera Isabel Lourinho, lembrando ainda que, em função da distancia geográfica do lar, os estudantes precisam de aprender a “gerir os fins-de-semana em que não podem ir a casa e em que muitas vezes têm que ficar sozinhos”.

E ainda uma pandemia…

Como se não bastasse, a proliferação da COVID-19 veio dificultar ainda mais a adaptação dos estudantes, forçando aulas à distância, cancelando grande parte das atividades presenciais, desincentivando os convívios em grandes grupos ou a criação de oportunidades para conhecer novas pessoas.

Alguns estudantes, em resposta a um questionário anónimo criado pelo ICBAS, queixam-se de que sentem a “falta de eventos sociais” e de “interagir com as pessoas”, e de que vivem com o receio diário de serem infetados e de poderem “levar o vírus para casa”.

Além disso, dizem “não poder tirar tanto proveito das aulas práticas” e, por vezes, tornar-se mais complicado apreender a matéria via Zoom.

A falta de interação com outras pessoas é uma das principais dificuldades reveladas pelos estudantes. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

Que soluções?

“O primeiro passo será sempre partilhar e procurar quem esteja habilitado a poder ajudar”, sugere Isabel Lourinho.

Os amigos e a família podem dar bons conselhos, mas nem sempre dispensam a consulta de um profissional. A Universidade do Porto disponibiliza gratuitamente um conjunto abrangente de recursos de apoio psicológico, tanto online, através do Psic.ON – Suporte Psicológico Online da Universidade do Porto, como presencialmente, através de serviços de consulta promovidos pelos Serviços de Ação Social da Universidade do Porto (SASUP).

Uma das soluções pode passar por “estudar com colegas, respeitando os atuais constrangimentos”. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

Existem também gabinetes de apoio ao estudante distribuídos por algumas faculdades, geridos por psicólogos qualificados e especialistas em psicologia clínica, que garantem a total confidencialidade dos assuntos abordados.

Falar com colegas de anos mais avançados é uma estratégia fundamental. Eles já passaram pelo mesmo processo de adaptação e poderão ter dicas para facilitar a resolução dos problemas. Tal poderá ser feito através do Programa Transversal de Mentoria Interpares, no qual participam todas as unidades orgânicas da U.Porto.

De estudantes para estudantes

Um grupo de estudantes mais velhos do ICBAS, onde se realizou no dia 24 de novembro uma sessão de reflexão e partilha sobre esta temática, deixou algumas sugestões aos mais novos.

Entre as dicas para “sobreviver” no Ensino Superior incluem-se “adaptar o método de estudo (a forma de estudar no secundário pode já não ser a mais adequada) e “fazer uma boa gestão do tempo, definindo um plano de estudo com horários para estudar, descansar e dormir”.

A “receita” passa ainda por “manter as atividades extracurriculares que faziam antes e envolver-se em novas do seu interesse”, “moderar as expectativas relativamente às notas”, “experimentar estudar com colegas, respeitando os atuais constrangimentos” e “focar-se nos seus próprios objetivos e capacidades”. E, muito importante: “Não viver os problemas em silêncio e partilhá-los com alguém”.

Desta forma, as dificuldades que no início eram percecionadas como catastróficas poderão passar a ser vistas como desafios e oportunidades. O importante é encontrar estratégias e procurar ajuda para resolver os problemas que vão surgindo.