Um estudo liderado por Pedro Norton, investigador da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), abordou a prevalência e os determinantes de bullying em profissionais de saúde e concluiu que um em cada 12 trabalhadores (8%) sofre deste tipo de agressão.

As conclusões referem também que os atos de bullying – termo que designa a exposição sistemática à humilhação e a comportamentos hostis e violentos contra um ou mais indivíduos – incidem sobretudo em pessoas do sexo feminino, que trabalham como enfermeiras, administrativas e assistentes operacionais.

“Os profissionais de saúde são um grupo ocupacional particularmente exposto ao bullying. Em Portugal, apenas existem dados representativos deste fenómeno em enfermeiros, pelo que este é o primeiro estudo de grande dimensão que avalia o bullying nos restantes grupos profissionais ligados à saúde”, refere Pedro Norton.

A nível dos agentes que praticam bullying, verificou-se que este tipo de agressões era perpetrado, predominantemente, por superiores hierárquicos das vítimas.

A falta de estabilidade no trabalho e as políticas de flexibilidade laboral estão, de acordo com os autores do estudo, intimamente associadas ao bullying no local de trabalho. Os trabalhadores temporários são um grupo particularmente vulnerável, devido ao receio de serem despedidos ou de não verem o seu contrato renovado, no caso de denunciarem a agressão. Também os trabalhadores com contratos a termo sofrem um maior risco de agressão comparativamente aos que possuem contrato por tempo indeterminado.

Os resultados apresentados foram obtidos através da análise das respostas a um inquérito aplicado a 707 profissionais de saúde hospitalares. A maioria dos participantes são mulheres (72,7%), com menos de 35 anos (46,2%) e que exercem a profissão de enfermagem (38,7%).

De realçar, no entanto, que a prevalência de bullying observada neste estudo é inferior à registada em outros países: Austrália (50%), Estados Unidos da América (38%) e outros países Europeus (11,3%).

No entanto, “apesar da prevalência encontrada ser inferior à estimada em outros países, continua a afetar um número elevado de profissionais de saúde. Assim, o estabelecimento de medidas preventivas que possam minimizar as suas consequências quer a nível individual (físicas e psíquicas) quer a nível institucional (absentismo) torna-se imperativo. Neste contexto, os Serviços de Medicina do Trabalho devem ter um papel ativo no desenho de intervenções que tenham por objetivo a identificação e acompanhamento clínico dos casos, a referenciação para estruturas de apoio e a delineação de estratégias preventivas que eliminem ou minimizem este problema”, acrescenta.

O artigo “Prevalence and Determinants of Bullying Among Health Care Workers in Portugal” foi publicado na revista “Workplace Health & Safety” e pode ser consultado, através do seguinte link.