Cerca de 87% das mulheres envolvidas no estudo submeteram-se ao exame de rastreio do cancro do colo do útero, o que representa um aumento de 10% face aos dados obtidos no Inquérito Nacional de Saúde 2005/2006. (Foto: DR)

Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) revela que houve um aumento do número de mulheres que realizam o rastreio do cancro do colo do útero em Portugal. A mesma investigação mostra, no entanto, que uma percentagem considerável de mulheres nunca fizeram o teste e, entre as que fizeram, nem todas seguem as recomendações europeias relativamente ao intervalo de tempo em que se devem submeter a um novo exame.

O trabalho foi publicado no Journal of Obstetrics and Gynaecology Research e pretendeu “descrever o uso do exame de rastreio do cancro do colo do útero em Portugal e identificar os fatores associados à não utilização ou subutilização do teste”, explica Bárbara Peleteiro, coordenadora da investigação.

Foram analisados dados de 5884 mulheres, com idades compreendidas entre os 25 e os 64 anos (grupo etário para o qual o rastreio é recomendado), que responderam ao Inquérito Nacional de Saúde 2014.

Verificou-se que a grande maioria das mulheres (87%) se submeteu ao exame de rastreio do cancro do colo do útero e que o uso do teste aumentou em cerca de 10% em comparação com os dados obtidos no Inquérito Nacional de Saúde 2005/2006. Ainda assim, cerca de 13% das mulheres nunca fizeram o rastreio e, entre as que fizeram, 12% não seguem as recomendações europeias relativas à periodicidade de realização do exame.

Os investigadores observaram assimetrias na utilização do teste, de acordo com as várias regiões do país. O Norte de Portugal foi a zona onde se registaram as percentagens mais altas de adesão ao rastreio, ao passo que o Alentejo, o Algarve e as Regiões Autónomas foram aquelas onde se verificaram maiores níveis de não adesão ao teste.

Quando se traça o perfil sociodemográfico das (não) utilizadoras, vemos que o não uso do rastreio é superior em mulheres que são solteiras, que pertencem a um estatuto socioeconómico mais baixo e que adotam estilos de vida menos saudáveis (como ingestão de bebidas alcoólicas, consumo de tabaco, etc.). Já as que têm um nível de escolaridade mais elevado, maiores rendimentos e usam com maior frequência os serviços de saúde aderem mais ao rastreio.

Segundo Bárbara Peleteiro, “nestes últimos anos, conseguimos aumentar o número de pessoas que fazem o rastreio, o que é positivo. Contudo, quando analisamos as características sociodemográficas que explicam a não adesão das mulheres, vemos que estas continuam a ser as mesmas de há 10 anos. Isto significa que chegamos a mais pessoas, mas não às mulheres que já não utilizavam antes o exame”.

A investigação mostra que, apesar de existir um programa de rastreio do cancro do colo do útero organizado nas várias regiões do país, existem ainda diferenças regionais na utilização do teste. As mulheres que vivem em regiões mais pobres e que têm estilos de vida menos saudáveis aderem menos ao rastreio, pelo que “importa pensar em estratégias que ajudem a motivar esta população a utilizar o programa de rastreio organizado”, conclui a investigadora do ISPUP.

Note-se que o cancro do colo do útero é o quarto tipo de cancro mais comum nas mulheres, representando 7,5% de todas as mortes femininas por cancro em todo o mundo. Compreender os padrões de utilização do uso do rastreio do cancro do colo do útero é fundamental para melhorar o seu controlo e prevenção.

O estudo, designado Cervical cytology use in Portugal: Results from the National Health Survey 2014, foi desenvolvido no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP e é também assinado pelos investigadores Londa Rukhadze e Nuno Lunet.

A investigação encontra-se disponível  aqui.