A pandemia de COVID-19 veio colocar vários desafios às organizações de segurança e salvamento aquático, em especial quanto aos procedimentos a adotar durante a atuação das suas equipas após um afogamento.E foi para ajudá-las que uma task force internacional, coordenada pela investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), Catarina Queiroga, preparou uma posição oficial com recomendações para ressuscitação após um afogamento, com base na informação científica disponível sobre a COVID-19, até à data.

O documento, tornado público a 4 de junho, apresenta orientações internacionais, validadas por mais de 50 especialistas de várias partes do mundo. Estas guias serviram de base para as recomendações portuguesas direcionadas aos nadadores-salvadores para a Época Balnear 2020, que, no nosso país, iniciou a 6 de junho.

Como explica Catarina Queiroga, “a decisão de proceder à ressuscitação, após um afogamento, não é tão fácil, no contexto da pandemia de COVID-19. O contacto com pessoas afogadas apresenta um risco acrescido para a segurança do resgatador, sobretudo, se forem mantidos os procedimentos de ressuscitação adotados antes da pandemia”.

Na verdade, são muitas as questões que se levantam: “Será que deveríamos continuar a administrar ventilações boca-a-boca a afogados, cujo nível de infecciosidade era desconhecido? Que equipamentos de proteção individual deviam ser usados pelos profissionais de segurança e salvamento aquático durante a ressuscitação? Foi para esclarecer estas e outras dúvidas que criámos esta task force, de forma a conseguirmos apresentar uma posição oficial internacional com um conjunto de recomendações”, acrescenta a investigadora do ISPUP.

O trabalho internacional, coordenado por Catarina Queiroga, apresenta recomendações para as organizações na era COVID-19, em específico sobre a prevenção de afogamento, diminuição do risco de infeção entre os profissionais, uso de equipamento de proteção individual, formas de ressuscitação, programas de formação profissional e questões éticas e responsabilidades das organizações.

Catarina Queiroga, coordenadora do estudo, integra o Grupo de Investigação em Epidemiologia Perinatal e Pediátrica do ISPUP. (Foto: DR)

Recomendações a seguir

Quanto à diminuição do risco de infeção, por exemplo, o documento aconselha a não realização da ventilação boca-a-boca sem qualquer tipo de proteção por parte dos profissionais, assim como a não execução  da ressuscitação ou outras atividades que impliquem contacto direto com pessoas, caso o profissional pertença a um grupo de risco para a COVID-19. Sugere-se também que as organizações de segurança e salvamento aquáticos exijam que os seus trabalhadores estejam entre os primeiros grupos a receberem a vacina, quando a mesma estiver disponível.

No que diz respeito ao equipamento de proteção individual, destaca-se a importância de os resgatadores usarem sempre luvas, máscara e proteção ocular, em manobras de ressuscitação, e de conseguirem fazer a higienização adequada das mãos, após cada intervenção ou contacto pessoal. “É importante que as organizações garantam o fornecimento destes equipamentos e que ensinem os profissionais a usá-los e a descartá-los adequadamente”, sublinha Catarina Queiroga.

Entre vários outros tópicos abordados na posição oficial emitida, é apresentado um algoritmo para a ressuscitação cardiorrespiratória, indicando todos os passos a seguir para se realizar o procedimento da forma mais segura possível, quer para o afogado quer para o resgatador.

Dicas coincidem com o início da época balnear

As recomendações agora divulgadas coincidem com o início da época balnear, em Portugal, e podem auxiliar as Associações de Nadadores Salvadores, os concessionários de praias e as Câmaras Municipais, que, sublinha a investigadora do ISPUP, “devem seguir as normas nacionais já publicadas”.

O documento adianta que nem todas as organizações poderão adotar as recomendações apresentadas e que estas poderão ser adaptadas à realidade de cada país. Os investigadores referem que estas sugestões poderão ser futuramente atualizadas, de acordo com a evolução do conhecimento sobre o novo coronavírus.

Intitulado Resuscitation of the drowned person in the era of COVID-19 disease: A common ground for recommendations, identification of research needs and a global call to action, o documento resulta de uma iniciativa conjunta das três organizações mundiais que albergam e orientam profissionais de salvamento aquático: a International Life Saving Federation, a International Maritime Rescue Federation e a International Drowning Researchers’ Alliance.