É urgente desenvolver meios de deteção precoce dos problemas de solidão, isolamento social e sofrimento psicológico em pessoas idosas, assim como promover programas de apoio às famílias. O alerta é da equipa de investigadores de Portugal, Espanha e Suécia que apresentou um “documento síntese” (“policy brief”) sobre o tema no Dia Internacional da Pessoa Idosa, celebrado esta sexta-feira, 1 de outubro, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Entre as entidades representadas estava a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Intitulado “QASP – Qualidade de Vida e Envelhecimento em Espanha, Suécia e Portugal”, o projeto, que teve uma duração de três anos, avaliou os desafios associados ao envelhecimento demográfico e concluiu que a chamada “epidemia de solidão” e os problemas de saúde mental requerem “medidas urgentes destinadas à promoção da saúde e da qualidade de vida entre as pessoas idosas”.

“É urgente desenvolver intervenções multidisciplinares com o objetivo de mitigar a solidão e o isolamento social e de melhorar a saúde mental das pessoas idosas”, explica Maria João Forjaz, coordenadora do projeto e investigadora do Instituto de Saúde Carlos III (ISCIII), em Espanha.

Cerca de 22% da população portuguesa tem 65 ou mais anos, estimando-se que uma em cada quatro pessoas idosas tenham sentimentos de solidão e sintomas depressivos.

Deteção precoce e apoio às famílias são parte da solução

Segundo a equipa do projeto, são necessárias “ações a todos os níveis (individual, comunitário e institucional), o envolvimento de investigadores, Administração Pública, profissionais dos Serviços Sociais e da Saúde, movimentos associativos, bem como a disponibilização dos recursos necessários”.

Para enfrentar a solidão indesejada e o isolamento social das pessoas mais velhas, recomenda-se, por exemplo, a deteção precoce de problemas e a promoção de programas comunitários e de apoio às famílias, incluindo respostas que garantam o descanso do cuidador e a conciliação dos cuidados prestados à família com as obrigações laborais.

Para lidar com o sofrimento psicológicos das pessoas mais velhas, principalmente estados depressivos e ansiedade, aconselha-se, além da deteção precoce, o desenvolvimento de “atividades na comunidade que estimulem simultaneamente capacidades físicas, psicológicas e sociais, e que consigam incluir as pessoas em situação de vulnerabilidade acrescida, como as que vivem sós”.

Os investigadores alertam também que é crucial envolver as pessoas mais velhas na planificação e na implementação das intervenções que lhes são direcionadas.

“Devemos fomentar a participação das pessoas mais velhas em todas as fases dos programas de cuidados e promoção da saúde física e mental, ajudando-as a sentirem-se valorizadas, úteis e com propósito de vida”, refere Oscar Ribeiro, investigador do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e coordenador do projeto em Portugal.

Colocar o envelhecimento na agenda política

As recomendações do QASP são dirigidas às autoridades de saúde, decisores políticos e profissionais que trabalham com pessoas idosas, quer em Portugal, quer em Espanha.

“Pretendemos sensibilizar e colocar a temática do envelhecimento na agenda política. Para isso, é preciso chegar a vários organismos e instituições ao mesmo tempo. Também é preciso que as empresas tenham em conta estratégias para abordar o envelhecimento dos seus trabalhadores”, refere a coordenadora.

Financiado pelo ISCIII, o projeto de investigação QASP partiu da base europeia SHARE (Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe) que segue pessoas com mais de 50 anos ao longo do tempo e pretende responder aos objetivos da Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030), promovida pelas Nações Unidas (ONU) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

A equipa de investigação é composta por profissionais de diferentes áreas, nomeadamente da Medicina, Psicologia, Sociologia, Estatística, Geografia, Gerontologia e Engenharia, envolvendo membros do CINTESIS, como Oscar Ribeiro, Lia Araújo e Laetitia Teixeira, bem como investigadores do ISCIII e do Instituto Karolinska, na Suécia.

Entre os participantes estiveram Vânia de La Fuente, da OMS, Lia Fernandes (CINTESIS/FMUP), em representação do diretor da FMUP, Amaia Calderón, do Instituto Karolinska, Fermina Rojo, do CSIC, Carmen Rodriguez-Blásquez (ISCIII), Gloria Fernandez-Mayoralas (CSIC) e Constança Paúl (CINTESIS/ICBAS).