Num estudo aceite para publicação na revista Astronomy & Astrophysics, e que recorreu a dados do espectrógrafo ESPRESSO, uma equipa internacional, que conta com a participação de vários investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), confirmou a existência do exoplaneta Proxima b, o exoplaneta potencialmente habitável conhecido mais próximo do nosso Sistema Solar.

Localizado a “apenas” 4,2 anos-luz (cerca de 40 biliões de quilómetros) de distância da Terra, na constelação de Centaurus, o exoplaneta Proxima b foi detetado pela primeira vez há cerca de quatro anos, graças à medição de variação de velocidade radial da estrela a rondar 1 metro por segundo. Um valor que, na altura, se situava demasiado próximo do limite da precisão do HARPS, o espectrógrafo usado na época, para ser conclusivo. Este candidato a exoplaneta parecia ter massa semelhante à da Terra e estaria dentro da chamada zona de habitabilidade da sua estrela-mãe, ou seja, uma possível “ExoTerra”.

A confirmação só foi então possível agora, graças ao poder coletor do Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), combinado com a extraordinária resolução e precisão do ESPRESSO, o mais preciso espectrógrafo construído até hoje.

O investigador João Faria, do IA, foi um dos principais responsáveis pela análise dos dados recolhidos: “O ESPRESSO conseguiu confirmar, de forma independente, a presença do planeta a orbitar Proxima Centauri, a estrela mais próxima de nós. A atividade magnética da estrela trouxe algumas dificuldades, mas com a alta precisão e resolução do ESPRESSO, foi possível detetar o planeta com apenas um terço das observações usadas anteriormente”, explica o também antigo estudante da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

Portas abertas para novos mundos

Os dados obtidos têm uma precisão de cerca de 30 centímetros por segundo, e demonstram assim que o ESPRESSO tem capacidade para detetar planetas com a massa da Terra e até inferior.

“A análise dos dados ajudou-nos a desenvolver novas técnicas para detetar planetas de pequena massa. Estas técnicas estão agora a ser aplicadas a outras estrelas, mais parecidas com o Sol, à procura de planetas como a Terra”, projeta João Faria.

Além de Proxima b, a equipa de investigadores ainda encontrou indícios de um segundo sinal nos dados, cuja origem ainda não foi identificada. Se se verificar ser outro exoplaneta, terá uma massa inferior a um terço da massa da Terra.

Um futuro risonho

Segundo Nuno Cardoso Santos, investigador do IA e professor no Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da U.Porto (DFAFCUP), os resultados agora obtidos “demonstram a qualidade do trabalho da equipa do IA e o potencial do ESPRESSO para detetar outras Terras no Universo”. E antecipa: “Nos próximos meses vamos certamente ver mais resultados extraordinários”

Otimista mostra-se igualmente o cientista do instrumento ESPRESSO no ESO (Chile) e investigador do IA, Pedro Figueira.“Este é o primeiro resultado cientifico que faz uso da precisão em velocidades radiais do espectrografo ESPRESSO, e com ele já estamos a um nível de precisão superior a qualquer outro estudo publicado. Isto mostra o futuro brilhante do ESPRESSO.”

Recorde-se que a precisão do ESPRESSO só foi conseguida graças ao esforço do consórcio internacional responsável pelo desenvolvimento e construção deste espectrógrafo, constituído por instituições académicas e científicas de Portugal, Itália, Suíça e Espanha, bem como membros do ESO.

Os parceiros portugueses são o IA (Universidade do Porto e Universidade de Lisboa) e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). A participação nacional no ESPRESSO foi financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).