Uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) identificou recentemente um mecanismo molecular, até agora desconhecido, que explica a resistência de alguns doentes com cancro gástrico ao medicamento utlizado nestes casos. Esta descoberta foi publicada na revista Oncogene e representa um importante passo no tratamento personalizado dos pacientes com cancro do estômago.

O estudo, liderado pelos investigadores Celso Reis e Joana Gomes, contou também com a participação de equipas do IPO Porto e da Universidade de Leiden, na Holanda, e focou-se na resistência ao trastuzumab, um dos poucos agentes de terapia personalizada aprovado para o tratamento de pacientes com cancro gástrico de estádio IV (avançado e com metástases) positivo para o recetor oncogénico HER2 (cerca de 10-15% dos casos de cancro do estômago).

O trastuzumab, explica Henrique Duarte, primeiro autor do artigo, “liga-se a este recetor HER2 (presente nas células malignas) e consegue bloqueá-lo, acabando por provocar a morte das células tumorais. No entanto, a maioria dos pacientes desenvolve, de imediato ou num curto período de tempo, resistência molecular ao trastuzumab, o que compromete a sua eficácia terapêutica e aplicabilidade clínica”.

A equipa começou por caracterizar a estrutura dos glicanos (cadeias de açúcares presentes nas células) ligadas ao recetor HER2 em células tumorais do estômago e confirmou a presença de algumas destas estruturas em amostras clínicas de pacientes. “Verificámos que a modificação do recetor HER2 com determinados tipos de glicanos ocorre especificamente no domínio de ligação do HER2 ao anticorpo terapêutico trastuzumab. Depois, utilizando modelos celulares de carcinoma gástrico positivo para o recetor HER2, desvendámos o mecanismo molecular através do qual estas cadeias de açúcares conferem resistência ao trastuzumab», explica Henrique Duarte.

Esta descoberta, sublinha o investigador Celso Reis, líder do grupo de investigação do i3S «Glycobiology in Cancer», “contribuirá para o estabelecimento de novos biomarcadores preditivos de resposta à terapia anti-HER2 e para uma melhor estratificação dos pacientes elegíveis para este esquema terapêutico.