Uma equipa de investigação liderada por Helder Maiato, investigador no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, Universidade do Porto (i3S) e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), descobriu que são os microtúbulos quem comunica à célula quando é preciso corrigir erros e quando está tudo bem. Esta descoberta, que pode ser importante para perceber o processo de formação do cancro, foi publicada na revista Journal of Cell Biology, tendo recebido honras de capa, e mereceu destaque semanal na igualmente prestigiada revista Science.

Uma das características mais comuns em cancros humanos é a perda ou ganho de cromossomas. Estes desvios ao número normal de cromossomas (normalmente seriam 23 pares) estão associados a uma rápida evolução e até mesmo à capacidade de metastização das células cancerígenas, e são consequência de erros de ligação entre cromossomas e microtúbulos (as “cordas” que puxam os cromossomas) durante a divisão celular.

Helder Maiato, que liderou esta investigação, explica que “já se sabia que nas células normais existiam mecanismos de correção de erros, mas desconhecia-se se a célula distinguia as ligações corretas das incorretas. Foi precisamente isso que descobrimos neste trabalho, que as células são avisadas dos erros pelos microtúbulos”.

Helder Maiato, líder da equipa de investigação. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

Até à data, pensava-se que os mecanismos de correção das células atuavam de forma indiscriminada. “O nosso trabalho demonstrou que, pelo menos em parte, estes mecanismos de correção não são aleatórios e que os microtúbulos, até então considerados elementos passivos neste processo, apresentam uma modificação química distinta consoante o tipo de ligação que se estabelece entre microtúbulos e cromossomas seja correta ou incorreta”, sublinha Luísa Ferreira, primeira autora do artigo.

Basicamente, resume Helder Maiato, “descobrimos que os microtúbulos que formam ligações corretas são diferentes dos que formam ligações incorretas”.

Luísa Ferreira, investigadora do i3S e primeira autora do artigo. (Foto: i3S)

Mais especificamente, adianta Luísa Ferreira, “observámos que a presença/ausência de um determinado aminoácido nos microtúbulos funciona como um sinal que é transmitido às células para que estas consigam distinguir as ligações corretas das ligações incorretas, atuando apenas de forma seletiva sobre as incorretas”.

O que se concluiu, sublinha Helder Maiato, “é que parece haver uma espécie de código de erro nos próprios microtúbulos, que se pensavam serem meramente elementos passivos em todo o processo”.