O trabalho da equipa do i3S foi coordenado pelo investigador Tiago Duarte. (Foto: i3S)

Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) Universidade do Porto, em colaboração com o grupo de Ferro e Imunidade do MRC Weatherall Institute of Molecular Medicine na Universidade de Oxford, no Reino Unido, descobriram que o gene NRF2 tem um papel importante na regulação dos níveis elevados de ferro no organismo.

Esta descoberta, que faz capa da revista científica «Nature Metabolism», abre a possibilidade de se encontrar neste gene uma nova terapia para doenças relacionadas com a sobrecarga de ferro, nomeadamente a hemocromatose e um grupo de doenças do sangue caracterizadas por anomalias na produção de hemoglobina.

O ferro é um elemento essencial à vida. A sua deficiência interfere com o transporte de oxigénio nos glóbulos vermelhos e resulta em anemia, mas o excesso de ferro também é prejudicial à saúde humana, provocando danos tecidulares que podem levar à falência de órgãos, tais como o coração e o fígado. Algumas das doenças humanas associadas à sobrecarga de ferro no organismo são a hemocromatose hereditária, uma doença genética comum caracterizada por um excesso de absorção de ferro a partir da dieta, e as talassémias.

Um trabalho anterior da equipa do i3S, coordenado pelo investigador Tiago Duarte, já tinha demonstrado que o gene NRF2 protege o fígado de ratinhos contra a toxicidade do ferro. Agora, em colaboração com o grupo de Ferro e Imunidade da Universidade de Oxford, no Reino Unido, liderado por Hal Drakesmith, descobriram que o próprio NRF2 desempenha um importante papel regulador num determinado tipo de células do fígado, as células endoteliais. São estas células que produzem a proteína BMP6, que contribui para diminuir a entrada de ferro no organismo por via da dieta.

Segundo Tiago Duarte, «provou-se que os ratinhos sem o gene NRF2 expressam menos BMP6 e acumulam mais ferro no organismo. Já se sabia que a BMP6 diminui a entrada de ferro, mas a forma como a presença de ferro controla a produção da BMP6 permanecia como um dos maiores mistérios da biologia do ferro. A nossa investigação vem resolver esse enigma».

O trabalho dos investigadores do i3S e da Universidade de Oxford demonstra ainda que o tratamento de ratinhos portadores de hemocromatose hereditária ou de beta-talassémia com ativadores farmacológicos do gene NRF2 permite corrigir os níveis de ferro no organismo.

“Esta descoberta abre a possibilidade de se encontrar no NRF2 um novo alvo terapêutico para as doenças de sobrecarga de ferro. A ativação farmacológica do NRF2 pode ainda vir a tornar-se útil no tratamento de uma série de outras doenças nas quais também se acredita que o excesso de ferro esteja envolvido, incluindo o cancro, as doenças metabólicas e neurodegenerativas”, acrescenta Tiago Duarte.

Para o investigador do i3S, a publicação deste artigo «representa o culminar de 10 anos de trabalho sobre este gene (NRF2) no contexto das doenças de sobrecarga de ferro». Além disso, acrescenta, ser capa desta revista que, apesar de recente, dá destaque precisamente à área em que trabalho, é motivo de grande orgulho».

Graça Porto, líder do grupo de investigação do i3S onde este trabalho foi realizado e investigadora dedicada ao estudo da hemocromatose e outras doenças de sobrecarga de ferro, salienta por sua vez a “relevância deste trabalho, tanto na investigação da biologia do ferro como nas suas potenciais aplicações clínicas”.