Uma equipa do  Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), da Universidade do Porto, publicou recentemente um artigo na revista Nota Lepidopterologica, no qual descreve um novo género e uma nova espécie de borboleta noturnaMondeguina atlanticella – para a ciência de Portugal.

A equipa, que inclui os investigadores Martin Corley, Sónia Ferreira e Jorge Rosete, detetou a nova borboleta na Ilha da Morraceira, situada sul da Figueira da Foz. Para comprová-lo, teve que identificar as diferenças na sua anatomia e no seu “código de barras” de ADN que a distinguem de outras espécies já conhecidas.

Recorrendo a técnicas de análise ao DNA, os investigadores observaram então que a nova espécie e uma outra espécie muito próxima – e comum em vários países do Mediterrâneo – possuem características morfológicas distintas, particularmente as antenas longas e as asas posteriores incomumente esbeltas.

Após um estudo detalhado dos exemplares disponíveis, foi igualmente possível concluir que estas duas espécies pertencem a um novo género, o qual é igualmente descrito no trabalho publicado.

Homenagem ao Mondego e ao Atlântico

Após o reconhecimento dos dois novos taxa para a ciência (género e espécie), foi necessário proceder à escolha dos seus nomes. Os autores do artigo decidiram, então, nomear o novo género de borboleta noturna em homenagem ao rio Mondego, o rio mais longo inteiramente português e que inclui no seu trecho terminal o habitat da nova espécie descrita para a ciência.

Ao nomear a nova espécie como Mondeguina atlanticella, os investigadores fazem também alusão à proximidade dos locais onde a espécie é conhecida ao oceano Atlântico. Uma realidade que contrasta com a da sua espécie mais próxima, que ocorre na proximidade do mar Mediterrâneo e se designa Mondeguina mediterranella.

A nova espécie foi detetada na Ilha da Morraceira, situada perto da foz do rio Mondego, a sul da Figueira da Foz (Foto: Jorge Rosete)

Muito mais por descobrir

O estudo agora publicado foi desenvolvido no âmbito dos projetos EnvMetaGen CIBIO-InBIO, e PORBIOTA mais precisamente na iniciativa IBI: InBIO Barcoding Initiative. A iniciativa IBI consiste na construção de uma biblioteca de códigos de barras de ADN focada especialmente em invertebrados.

Espera-se que esta coleção de referência do CIBIO-InBIO seja uma ferramenta fundamental para a monitorização da biodiversidade a longo prazo e em larga escala na Península Ibérica e, seguramente, na identificação de mais espécies por enquanto ainda desconhecidas da Ciência.

Note-se que esta não é a primeira vez que os investigadores CIBIO-InBIO estão envolvidos na deteção de novas espécies de borboletas noturnas em Portugal. Em 2017, uma equipa coordenada por Martin Corley já tinha identificado pela primeira vez a presença da Borkhausenia crimnodes em Pombal, Ansião e Soure. Já em 2019, os investigadores Martin Corley, Sónia Ferreira e Vanessa Mata, descreveram a descoberta da Ypsolopha rhinolophi no norte do país.