Uma equipa internacional de cientistas, da qual fizeram parte Angelica Crottini e Walter Cocca, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), da Universidade do Porto, acaba de descobrir e descrever uma nova espécie de anfíbio para a ilha de Madagáscar, conhecida por apresentar uma grande biodiversidade e uma concentração excecional de fauna e flora endémica.

Stumpffia froschaueri é a designação desta nova espécie de rã, que mede apenas 1cm de comprimento e habita a folhagem de florestas relativamente intactas de uma pequena região do noroeste de Madagáscar. A sua coloração acastanhada e diferenças encontradas a níveis morfológico e genético permitiram distingui-la de outras espécies do mesmo género, também com reduzidos tamanhos e hábitos muito discretos.

“Devido ao tamanho minúsculo e aos hábitos discretos, os anfíbios do género Stumpffia foram negligenciados por muito tempo. Há alguns anos, colaboramos na descrição de 26 novas espécies do género Stumpffia, um trabalho que agora está a facilitar a descrição de várias outras espécies” refere Angelica Crottini.

O nome da nova espécie, descrita num artigo científico publicado na revista Zookeys, presta um tributo a Christoph Froschauer (1490 – 1564), um famoso impressor de Zurique cujo nome de família significa “homem da planície alagável cheia de sapos”. Nos livros que imprimiu, dos quais se destacam os famosos “Historia animalium” e “Bíblia de Zurique”, era usual fazer a sua assinatura com uma xilogravura que mostrava rãs debaixo de uma árvore.

Um futuro muito preocupante

Apesar do entusiasmo pela descoberta de uma nova espécie, os cientistas alertam já para o facto de ser já uma espécie ameaçada de extinção e sugerem mesmo que seja classificada como “criticamente em perigo” de acordo com os critérios da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN)

“Embora [a Stumpffia froschauerio] ocorra em alguns dos fragmentos florestais que fazem parte da Reserva da Biosfera UNESCO “Sahamalaza-Îles Radama”, essas florestas continuam sob forte pressão de desflorestação (chamado localmente tavy). Será necessária a proteção desses fragmentos florestais contra o desmatamento para garantir a sobrevivência desta nova espécie”, alerta Angelica Crottini.

Ainda de acordo com a investigadora do CIBIO-InBIO, “conhece-se muito pouco sobre a história natural dessa espécie, não existe informação sobre a sua abundância e a distribuição pode ser mais ampla do que aquela que conhecemos agora”. Por isso mesmo, “serão necessários mais estudos de campo para preencher estas lacunas e eventualmente reavaliar o estado de ameaça da espécie”, remata.

Segundo dados da IUCN , mais de 45% das espécies de anfíbios de Madagáscar encontram-se em estado crítico de extinção, devido à desflorestação. (Foto: Sergey Zhesterev)