Uma equipa internacional de investigadores liderada por Raquel Vasconcelos, do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto), publicou recentemente um artigo na prestigiada revista ZOOTAXA, no qual descreve uma nova espécie de osga única da ilha de São Nicolau, arquipélago de Cabo Verde.

Descrita com o nome de Hemidactylus nicolauensis, a nova espécie – do género Hemidactylus – é geneticamente distinta da osga de Bouvier H. bouvieri, à qual foi anteriormente associada, e de todos os outros Hemidactylus endémicos muito aparentados das ilhas de Cabo Verde em marcadores mitocondriais e nucleares. Caracteriza-se morfologicamente pela coloração distinta e por um arranjo diferente e diagnóstico das lamelas dos dedos.

“A descoberta de uma nova espécie é, na nossa perspetiva, sempre importante, dado que é algo que engrandece o património natural de todos, sobretudo do país onde ocorre”, refere Raquel Vasconcelos, primeira autora do estudo.

A investigadora do CIBIO-InBIO nota ainda que “estas descobertas dão-nos a oportunidade de obter conhecimento sobre a história de sucesso que permitiu a existência destas espécies após milhões de anos de evolução”. Por outro lado, “podem levar a algum avanço na ciência ou na engenharia, identificando novas substâncias que produzem e que podem ser economicamente valiosas, por exemplo”.

Detalhe das lamelas dos dedos da nova osga da ilha de São Nicolau, característica diagnóstica de Hemidactylus nicolauensis (Foto: Gunther Köhler)

Aposta na conservação

Com a descrição desta nova espécie, a ilha de São Nicolau passa a albergar três espécies de osga únicas. Já a diversidade de répteis documentada em Cabo Verde aumenta para 23 espécies endémicas.

Todas as espécies de répteis nativas das ilhas de Cabo Verde representam endemismos, ou seja, só ocorrem exclusivamente nesta região geográfica. Além disso, algumas espécies são únicas de algumas ilhas e dada a sua raridade ainda pouco se sabe sobre elas, revelando-se urgente desenvolver estudos que possibilitem um melhor conhecimento sobre a biodiversidade destes locais e adequar medidas para a conservação deste valioso património genético.

Como resultado destas mudanças taxonómicas, a equipa coordenada por Raquel Vasconcelos espera agora que os regulamentos de conservação existentes sejam revistos e que os estatutos de conservação destas osgas possam ser reavaliados.