Tal como as ondas de superfície que podemos encontrar na praia, existem também ondas que se propagam no interior do oceano. Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) estudaram estas ondas que têm impacto na circulação geral dos oceanos e mostraram como a existência simultânea de ondas de diferentes modos pode ter um impacto significativo no tempo de vida das ondas, e consequentemente na mistura entre as águas marinhas próximas à superfície, com implicações no clima da Terra.

Num estudo publicado recentemente na revista Scientific Reports do prestigiado grupo Nature, os especialistas descrevem, pela primeira vez, o que acontece na ressonância entre ondas internas mais profundas e de maior dimensão com ondas mais próximas da superfície.

“Como têm velocidades de propagação muito próximas uma da outra, permanecem acopladas por períodos de tempo prolongados, trocando energia entre elas, e permitindo assim uma longevidade muito superior a essas ondas de menor dimensão próximas da superfície”, explica José da Silva, docente do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da FCUP e investigador do CIIMAR.

Estas ondas internas são relevantes para a estrutura térmica da superfície do oceano e na evolução do sistema climático terrestre. O Oceano tem um papel muito relevante como regulador do clima, controlando amplitudes térmicas à superfície e sendo responsável por cerca de 50% da captação do carbono e libertação de oxigénio na atmosfera. Dado que os modelos climáticos globais projetam um aumento da estratificação do oceano até ao final do século – ou seja, tornar-se-á cada vez mais estanque a separação entre a água quente, no topo, e fria, nas profundezas – este estudo vem mostrar a importância que as ondas internas têm na estrutura térmica nas camadas mais superficiais do oceano através da mistura entre as águas marinhas, com consequências ao nível do clima e também na biodiversidade marinha que vive à superfície do oceano como é o caso do fitoplâncton.

“Este aumento da estratificação implica, por outro lado, ondas internas mais intensas e consequente maior mistura vertical, pelo que é agora um desafio conhecer melhor estas relações e qual o efeito que irá prevalecer”, acrescenta o especialista.

O estudo da autoria de investigadores da FCUP e do CIIMAR realizou-se no Mar de Andamão, ao largo da Tailândia. Foto: DR

Da Tailândia para Portugal…no Rio Douro

Realizado no Mar da Andamão, ao largo da Tailândia, este estudo, também assinado pelo docente da FCUP  e investigador do CIIMAR, Jorge Magalhães, e pelo investigador norte-americano, M. C. Buijsman, é também pioneiro uma vez que o fenómeno descrito pelos autores foi pela primeira vez revelado através de observações de satélite com imagens de alta resolução e de um modelo numérico conhecido como MITgcm (Massachusetts Institute of Technology general circulation model).

Os autores do estudo estão agora a trabalhar em Portugal, em particular na zona do Rio Douro, que, através da sua pluma, consegue também gerar ondas internas, também detetadas por satélite.

“Esse estudo tem interesse porque anteriormente pensava-se apenas que rios de grande caudal, como o Rio Columbia na costa Oeste dos EUA, conseguiam gerar ondas internas na região litoral. Nesse outro trabalho, ainda por concluir, iremos mostrar que rios de caudal moderado, também podem gerar ondas, e consequentemente ter um papel ainda mais preponderante nas zonas costeiras do planeta Terra”, antecipa José da Silva.