Uma equipa de investigação da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) descobriu o que está na origem de uma frequente lesão do ombro e uma forma de a impedir. A descoberta resultou na primeira classificação de sempre para o formato da apófise coracóide e inclui o nome dos dois investigadores portugueses envolvidos: Classificação de Leite-Torres.

Os investigadores concluíram que o formato da apófise coracóide (estrutura óssea da omoplata) está relacionado com a rotura do tendão subescapular. Quanto mais curva for a coracóide, maior a probabilidade de o tendão romper.

“Agora os clínicos podem saber que doentes têm maior probabilidade de desenvolver roturas do tendão subescapular”, começa por destacar João Torres, docente e investigador da FMUP.

Segundo o ortopedista, “esta descoberta poderá levar a uma alteração significativa da postura dos cirurgiões”, já que podem considerar a realização de um procedimento cirúrgico “mais vantajoso para o paciente” – a coracoplastia. Esta “consiste, no fundo, numa raspagem do osso, realizada para que o tendão tenha mais espaço para atuar”. E com uma vantagem. “Trata-se de um procedimento pouco agressivo e com um tempo de recuperação rápido para o paciente”,  explica Maria João Leite, estudante de doutoramento da FMUP.

Pacientes mais “protegidos”

Desta forma, o procedimento poderá vir a ser utilizado para “conferir uma proteção extra a pacientes de alto risco de desenvolver esta lesão”, prevenindo uma rotura ou protegendo uma reparação cirúrgica de falhar, evitando uma nova ida ao bloco operatório.

Os investigadores Maria João Leite e João Torres foram os responsáveis pelo primeiro sistema de classificação proposto para dividir as coracóides, de acordo com a sua morfologia e risco relativo de roturas do tendão subescapular.

“Depois de ser determinado que um paciente tem maior risco de uma lesão do tendão, com base em medições de ressonância magnética e através da nossa classificação proposta, os resultados podem traduzir-se em diferentes abordagens no ambiente clínico”, concluem os médicos ortopedistas.

No âmbito deste estudo, foram avaliados os exames dos pacientes que deram entrada no Centro Hospitalar Universitário de São João com lesões do tendão subescapular, entre 2009 e 2019. A amostra incluiu os dados de 232 desses pacientes.

As conclusões foram já partilhadas com a comunidade médica e científica, através da revista da especialidade Journal of Shoulder and Elbow Surgery. Para além de Maria João Leite e João Torres, a equipa de investigadores responsável pelo artigo é também composta por André Pinho, Márcia Sá, Miguel Relvas Silva e António Sousa.