Uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e do GreenUPorto – Centro de investigação em Produção Agroalimentar Sustentável está a estudar soluções para valorizar o sargaço que se vai acumulando nas praias portuguesas, especialmente no verão, transformando-o num recurso útil para a agricultura sustentável

“A produção de sargaço tem vindo a aumentar com as alterações climáticas, devido ao aumento da temperatura da água do mar e a um aumento de nutrientes que chegam às águas – nomeadamente azoto em excesso que acaba por potenciar o crescimento destas algas”, explica Maria Martins, investigadora na FCUP que está a dedicar a sua tese de doutoramento em Biologia a esta temática.

“É um fenómeno muito preocupante”, alerta. Em causa está a acumulação desta mistura de macroalgas e de ervas marinhas na costa que é responsável pela libertação de gases para a atmosfera e pela proliferação de bactérias e compromete a sustentabilidade do ecossistema marinho.

Numa altura em que, com o excesso de uso de fertilizantes sintéticos, se procura explorar práticas mais sustentáveis, os investigadores da FCUP estão a estudar as vantagens e desvantagens do uso do sargaço. “O sargaço já é usado há muitas décadas para favorecer o crescimento das plantas nos campos agrícolas, substituindo adubos e fertilizantes, mas de forma empírica e sem base científica”, nota Fernanda Fidalgo, docente da FCUP e orientadora do trabalho de Maria Martins. 

Muito comum nas praias portuguesas, como é o caso da zona de Viana do Castelo (por exemplo na Apúlia), mas também na costa algarvia, este resíduo orgânico vai sendo removido, tendo muitas vezes como destino o aterro sanitário. A ideia dos investigadores é dar-lhe uma nova vida, utilizando-o como biofertilizante, mas também como bioestimulante para mitigar as consequências nocivas da contaminação de solos com metais.

Os estudos em curso visam a utilização do sargaço como biofertilizante, mas também como bioestimulante para combater a contaminação de solos com metais. (Foto: FCUP)

Efeito protetor do sargaço nas plantas

“A novidade deste trabalho foi perceber que o sargaço tem efetivamente potencial para proteger a planta da contaminação dos solos por cobre”, explica Maria Martins.

Os investigadores fizeram os primeiros estudos na planta da cevada e os resultados são encorajadores: “Verificámos que a aplicação de sargaço no solo permite reduzir a bioacumulação de cobre pela planta e estimula uma série de processos fisiológicos que lhe permitem um maior crescimento”. 

A equipa descobriu ainda que o sargaço é rico em elementos como o potássio e cálcio, importantes macronutrientes vegetais, bem como em açúcares solúveis e fenóis, poderosos antioxidantes. Para além disso, concluiu que os níveis de sódio presentes não ultrapassam os valores legalmente permitidos para o uso no solo. 

Próximos passos do estudo: ajudar no combate aos efeitos da seca

Numa altura em que tanto se fala dos efeitos da seca em Portugal, é precisamente sobre esta consequência das alterações climáticas que vão recair os próximos passos deste estudo. O objetivo é perceber de que forma é que a falta de água pode, ou não, influenciar a toxicidade do cobre nos solos agrícolas e perceber se, mais uma vez, o sargaço consegue melhorar o desempenho fisiológico das plantas.

“O facto de a cevada ser uma cultura de céu aberto, e não crescer em estufa, torna-a particularmente suscetível à seca”, concretiza a estudante de doutoramento da FCUP.

Mas os investigadores não se ficam por aqui e querem mais longe e avaliar qual o impacto da sua incorporação no solo. Para isso, o enfoque vai recair sobre o estudo de indicadores microbianos e testes ecotoxicológicos, através da utilização de invertebrados terrestres. Esta componente do trabalho de Maria Martins está a ser orientada pela docente da FCUP, Ruth Pereira.