No topo da torre do Instituto Geofísico da Universidade do Porto (IGUP) e na cobertura do edifício Central da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) existem dois amostradores de pólen. Todas as semanas o pólen que anda no ar, continuamente “apanhado” por este equipamento, é recolhido pelos investigadores do Laboratório de Palinologia da FCUP

A Palinologia é a ciência que estuda o pólen, esporos e outros microorganismos tanto na forma viva como fóssil. E, de facto, ciência é o que não falta no dia-a-dia desta equipa liderada por Ilda Noronha, professora aposentada do Departamento de Biologia e que, atualmente, é investigadora ativa nesta área.

A dar continuidade a este legado de investigação está a investigadora Helena Ribeiro, juntamente com Catarina Pereira, técnica de laboratório e com a colaboração da estudante de doutoramento em Geociências da FCUP, Sónia Pereira. Quando chegou ao laboratório para nos mostrar o que se faz nesta área, tinha acabado de efetuar a recolha de dados no IGUP.

“A Palinologia, e em particular o estudo do grão de pólen, tem imensas aplicações”, começa por dizer. Esta é a ideia-chave que pontuou a nossa conversa sobre os vários trabalhos em que a equipa está envolvida. Um deles é o serviço público de recolha de dados aeropolínicos e entrega à European Allergen Network (EAN), uma das maiores redes mundiais de base de dados de contagem de pólen presente na atmosfera. Esta informação pode depois ser utilizada em inúmeros estudos para criar estatísticas e calcular as tendências da distribuição do pólen.

“A FCUP tem um contrato com a EAN para cedência de dados polínicos ao Coopernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS), um sistema da União Europeia que faz a monitorização de poluentes, e também efetua a previsão de concentração de pólen na atmosfera de oliveira, bétula, artemísia e de ambrósia”, explica Helena Ribeiro.

Todos os dias surge publicada, na página do CAMS, informação sobre a previsão de concentração de pólen no ar. Esta informação poderá ser útil, por exemplo, para ajudar alguém que tem alergia ao pólen da oliveira, e que tenha de se deslocar para uma zona de elevada concentração destes grãos, a tomar medidas preventivas. “Fazemos calendários polínicos que ajudam na prevenção das alergias”, concretiza a investigadora da FCUPa. Nos grãos de pólen, existem proteínas responsáveis por, quando inaladas por pessoas suscetíveis a este tipo de reações, provocar alergias.

Os investigadores estão ainda a trabalhar num projeto para lançar as diretrizes para a deteção automática de pólen para que possam existir dados em tempo real. “Estamos também envolvidos numa ação COST para encontrar novos métodos de deteção de bioaerossóis, como drones ou sensores “low-cost”. O objetivo é conseguir estudar e saber “o que é que cada indivíduo respira, que quantidade de pólen inala e se há uma resposta imediata em casos de alergia”.

Do auxílio na prevenção das alergias à previsão de colheitas 

Para além deste serviço público, a FCUP trabalha também na previsão de colheitas. Nomeadamente, “existe uma relação muito direta entre a quantidade de pólen de espécies anemófilas (espécies polinizadas com o pólen que é transportado pelo vento) que está na atmosfera como a vinha, a oliveira, a aveleira, por exemplo e a produção final de fruto”, refere Helena Ribeiro. “Se houver mais flores, teremos mais pólen a ser emitido para o ar, maior percentagem de polinização e, por consequência, maior produção de fruto”, acrescenta a investigadora.

A equipa do Laboratório de Palinologia está igualmente envolvida em várias prestações de serviço com instituições nacionais e internacionais do setor agrícola. “Produzimos as unidades filtrantes atmosféricas que são enviadas para as empresas para a recolha de grãos de pólen, que, depois de expostos, chegam ao laboratório onde analisamos e quantificamos o pólen. Após obtenção destes dados, em parceria com o Professor Mário Cunha, do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território, construímos os modelos matemáticos para fazer a previsão de colheita”.

Mas as aplicações do pólen não se ficam por aqui: ele “tem características que fazem com que se conserve durante muito tempo”, sendo por isso utilizado na caracterização Paleoambiental —  “saber como era a vegetação há 100 mil anos, que espécies existiam na altura e a partir desta informação inferir sobre como seria o clima”.   

Além disso, é possível usar também o pólen na investigação forense. “Ele pode permanecer nos objetos — nós não o vemos mas estão lá”, explica Helena Ribeiro. É muito resistente a altas temperaturas e a ácidos. “Cada espécie de planta produz uma morfologia diferente de pólen e assim conseguimos identificar pelo menos o género de planta que o produziu”, acrescenta.