Um estudo pioneiro em Portugal, coordenado pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), descobriu que as moléculas presentes na pele dos anfíbios que habitam em Portugal podem ter propriedades terapêuticas no combate a doenças como a leishmaniose, a diabetes e doenças neurodegenerativas.

Esta é a primeira vez que estão a ser estudados os compostos bioativos da pele de várias espécies de anfíbios encontrados em Portugal Continental e nos Açores. Os primeiros resultados deste estudo indicam que as moléculas presentes nestes animais têm potencial terapêutico e podem impulsionar a bioprospecção de novos fármacos.

O principal foco do projeto VIDA-FROG, no qual se insere este estudo, é a aplicação biotecnológica das moléculas presentes nas secreções cutâneas dos anfíbios. Com esse objetivo, os investigadores começaram por coletar espécimes do norte de Portugal, bem como das ilhas de São Miguel e Santa Maria, nos Açores. Mais recentemente, e por forma a obter uma amostra mais significativa, realizaram-se novas expedições no Gerês e na Serra de Valongo.

“Até ao momento já conseguimos identificar dois péptidos [na salamandra de fogo (Salamandra salamandra) e na rã verde (Pelophylax perezi), coletadas, respetivamente, no Parque Nacional Peneda-Gerês e na ilha de São Miguel, nos Açores] com potencial antioxidante”, explica Alexandra Plácido, investigadora de pós-doutoramento na FCUP, que trabalha no Laboratório Associado para a Química Verde – REQUIMTE.

“O que fazemos no terreno é a extração das secreções, usando um “bioestimulador”, com uma voltagem baixa, que provoca a contração muscular e, consequentemente, a libertação das secreções presentes nas glândulas da pele”, acrescenta.

A rã verde (Pelophylax perezi), comum no Parque Nacional Peneda-Gerês, foi uma das espécies identificadas pelos investigadores da FCUP. (Foto. DR)

Valorização da biodiversidade local

O objetivo deste projeto passa também por acrescentar valor à biodiversidade nacional e sensibilizar a comunidade para a importância destas espécies. Segundo Alexandra Plácido, esta investigação não tem qualquer impacte negativo quer no bem-estar animal quer na biodiversidade local, já que “após os primeiros procedimentos laboratoriais de identificação das moléculas, estas passam a ser sintetizadas quimicamente no Departamento de Química e Bioquímica da FCUP para realização dos estudos subsequentes”. Para além disso, e uma vez recolhidas as amostras de secreções, os animais são libertados no seu habitat natural.

O projeto VIDA-FROG é liderado pela FCUP e teve início em abril de 2019. Neste estudo estão envolvidos Peter Eaton, investigador do departamento de Química e Bioquímica da FCUP, os docentes da FCUP Paula Gameiro e Paula Gomes, e as investigadoras Cátia Teixeira e Alexandra Plácido.

Depois de recolhidas as amostras de secreções, os animais são libertados no seu habitat natural. (Foto: DR)

Nesta investigação participam também o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, o Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, e as Universidade de Brasília e de São Paulo.