Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e do GreenUPorto estão a estudar o impacto da contaminação ambiental por glifosato, o herbicida mais aplicado a nível mundial, na produção agrícola e na qualidade dos solos. Dada a controvérsia acerca dos riscos deste produto, alguns dos resultados que têm vindo a ser obtidos neste estudo têm-se revelado surpreendentes.

“São ainda escassas conclusões científicas sólidas acerca do seu verdadeiro impacto em organismos que não são alvo da sua aplicação e até mesmo na saúde humana”, explica Cristiano Soares, que está a estudar este herbicida no âmbito da sua tese de doutoramento.

Será o glifosato assim tão negativo? Em 2016, precisamente na altura em que este herbicida se começou a tornar mais mediático, o estudante da FCUP decidiu investigar, em conjunto com as orientadoras, Fernanda Fidalgo e Ruth Pereira, do Departamento de Biologia,  os efeitos da contaminação do solo por glifosato em plantas não-alvo, como espécies agrícolas, e em organismos do solo, como as minhocas.

Interessados em entender os impactos do glifosato na qualidade dos solos, os investigadores avaliaram os efeitos em espécies de organismos terrestres. E os resultados surpreenderam os cientistas da FCUP: “O glifosato não é o único “mau da fita”. Foi com muita surpresa que observámos que estes seres vivos não eram gravemente afetados. Aliás, alguns são até capazes de recolonizar os solos contaminados em cerca de quatro dias após a adição do herbicida”.

De acordo com a investigação, existem outros herbicidas com efeitos bem mais negativos na qualidade e biodiversidade do solo, ainda que utilizados em concentrações inferiores.

“O nosso estudo, a par de outros, não sugere que o glifosato representa um risco acrescido quando comparado a outros herbicidas comerciais, se forem respeitadas as doses recomendadas”, reforçam.

Estudo do impacto do glifosato no tomateiro e nas plantas de cevada

Já para plantas de interesse agronómico, as conclusões parecem ser bem diferentes. Depois de vários ensaios laboratoriais com espécies agrícolas de relevância em Portugal, tais como o tomateiro e a cevada, os investigadores verificaram que existem, efetivamente, impactos negativos ao nível do crescimento, acompanhados por uma desregulação de diversos processos bioquímicos e moleculares. De momento, encontram-se a desenvolver estratégias sustentáveis para mitigar estes efeitos tóxicos.

“Resíduos deste herbicida, em concentrações que podem ser encontradas em solos agrícolas, afetam de forma significativa o crescimento e o estado fisiológico destas plantas”, explica Cristiano Soares.

Como solução, propõem e demonstram que o uso de “bioestimulantes, alguns já presentes no mercado, como o silício e o ácido salicílico, poderá contribuir para proteger culturas de interesse agronómico destes efeitos nocivos. Para além disso, estes produtos podem ajudar também a aumentar a tolerância das plantas ao calor ou à falta de água.

Os próximos passos focam-se na transferência deste conhecimento para uma escala real, com a realização de ensaios de campo. “São necessárias evidências adicionais para entender melhor os impactos deste herbicida nos sistemas agrícolas”, refere o investigador.

Foram já publicados vários artigos em revistas científicas de elevado impacto, como o Journal of Hazardous Materials ou Environmental Pollution, sobre os efeitos do glifosato em plantas não-alvo e está a ser preparada a publicação do estudo sobre os efeitos nos organismos do solo.