Joana Moscoso

A investigadora é também uma das co-fundadoras da Native Scientist, empresa sem fins lucrativos que usa a ciência como meio de aprendizagem de línguas entre as crianças do Reino Unido. (Foto: DR)

Depois de nove anos no estrangeiro, a investigadora Joana Moscoso vai agora regressar à Universidade do Porto, mais propriamente ao i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, para trabalhar pela primeira vez em Portugal. A antiga estudante da Faculdade de Ciências (FCUP) acaba de conquistar uma bolsa Marie Sklodowoska-Curie, no valor de 150 mil euros, que servirão para instalar no i3S o seu projeto de investigação sobre a “linguagem” da bactéria Listeria.

Toda a carreira científica de Joana Moscoso tem por base a microbiologia pura e o estudo de bactérias. As duas últimas bactérias que estudou – a Pseudomonas aeruginosa e a Staphylococcus aureus – usam dois mecanismos muito semelhantes, mas que dependem de moléculas diferentes, para se adaptarem ao meio ambiente onde estão. Tendo nos últimos anos dedicado o seu trabalho ao estudo destes mecanismos, Joana Mocoso decidiu agora focar a sua atenção na Listeria exatamente porque esta bactéria possui ambos os mecanismos presentes nas duas bactérias anteriormente estudadas.

«Quero estudar os mecanismos que ela usa para se adaptar ao meio ambiente em que vive. Isto porque a Listeria, tal como a maior parte das bactérias, é capaz de perceber sinais no meio que a rodeia e mudar a forma como se comporta de forma a garantir a sua sobrevivência. Mais especificamente, o meu projeto visa entender como umas pequenas moléculas intracelulares, os nucleótidos cíclicos, são capazes de transmitir sinais e funcionar como moléculas mensageiras», explica a investigadora.

Esta bactéria, tal como as outras duas que estudou anteriormente, são patogénicas, ou seja, «são capazes de causar infeções ao ser humano» e, esclarece Joana Moscoso, «ao conhecer estes mecanismos, estou também a perceber como é que estas bactérias causam infeções no homem».

Quanto à Marie Sklodowoska-Curie Individual Fellowship que acaba de conquistar, Joana Moscoso diz estar muito feliz, por se tratar de uma «bolsa com muito mérito». «Representa também mais um passo importante na minha carreira enquanto investigadora», acrescenta. Além disso, está ser ótimo trabalhar no grupo «Molecular Microbiology», liderado pelo investigador Didier Cabanes, que se centra essencialmente no estudo da Listeria e da sua interação com células humanas.

Natural de Valença, Joana Moscoso licenciou-se em Biologia pela FCUP em 2007. No último ano do curso partiu para a Universidade de Umeå, na Suécia, onde realizou o estágio final ao abrigo do programa Erasmus. Iniciava assim um percurso internacional que, em 2008, teria como destino a Australian National University, em Camberra (Austrália). Em 2009 ingressou no Imperial College, onde completou o doutoramento (2013) e se especializou no estudo de bactérias.

Em paralelo com a atividade de investigação, Joana Moscoso sempre organizou eventos e atividades direcionadas para a divulgação científica no âmbito do MRC Centre for Molecular Bacteriology and Infection e colaborou ainda na PARSUK, uma rede de investigadores e estudantes portugueses no Reino Unido. Há três anos, em conjunto com outra investigadora portuguesa, fundou a «Native Scientist», uma empresa sem fins lucrativos que usa a ciência como veículo para a aprendizagem de línguas e cujo público-alvo são crianças dos 7 aos 12 anos.

No seu currículo, Joana Moscoso conta já com distinções como o «Microbiology Outreach Award» da Society for General Microbiology (2014), o «Award for Outstanding PhD student in Science Communication» do Imperial College of London, e o «Estabilished Researcher Prize» da Royal Society of Biology.