Sara Rocha (à esq.) desenvolveu o seu trabalho no âmbito da equipa do i3S liderada pela investigadora Carla Oliveira (em cima) e que envolve ainda as investigadoras Joana Carvalho e Patrícia Oliveira.  (Foto: DR)

A investigadora Sara Rocha, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) é a vencedora do Prémio Pulido Valente Ciência 2020, no valor de 10 mil euros. Atribuído pela Fundação Professor Francisco Pulido Valente e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), este prémio distingue o melhor artigo científico na área das Ciências Biomédicas publicado por um investigador com menos de 35 anos.

O artigo premiado tem como título “3D Cellular Architecture Affects MicroRNA and Protein Cargo of Extracellular Vesicles”, foi publicado na revista Advanced Science, e foi pioneiro na caracterização do impacto e consequências biológicas que a arquitetura celular impõe às vesículas extracelulares (EVs) produzidas pelas células de cancro gástrico.

Para tal, a equipa internacional, que integra investigadores do i3S, do grupo Expression Regulation in Cancer, liderado por Carla Oliveira, usou um modelo 3D de alto rendimento, para reproduzir a arquitetura dos tumores do estômago encontrados em doentes. Desta forma, foi possível identificar as «mensagens», específicas do contexto 3D, que as EVs produzidas pelas células malignas transportam, e as consequentes alterações no comportamento das células que recebem as EVs.

“Sabíamos que as EVs de cancro gástrico condicionam o comportamento dos tumores, mas o problema sempre foi conseguir recolher EVs em quantidade suficiente e a partir de condições experimentais mais próximas da realidade, para as podermos estudar devidamente. Por isso, quisemos reproduzir a arquitetura 3D dos tumores da forma mais fiel possível”, explica Sara Rocha.

Ainda segundo a investigadora, “este modelo 3D permitiu-nos não só obter EVs de células de cancro gástrico em grande quantidade, mas principalmente concluir que a tridimensionalidade das células é essencial para alocar nas EVs os fatores que favorecem o desenvolvimento tumoral e eventual disseminação. Ou seja, há vários níveis de informação que as culturas celulares clássicas 2D não revelam”.

Um futuro promissor

A partir dos resultados deste trabalho, e sempre utilizando o modelo 3D, a equipa de investigadores avançou para modelos pré-clínicos de ratinho, na tentativa de demonstrar o impacto da arquitetura celular, e das mensagens transmitidas pelas EVs na metastização de cancro gástrico.

Futuramente, adianta Carla Oliveira, líder da equipa portuguesa, “o conhecimento do impacto que as mensagens transmitidas pelas EVs têm no padrão de metastização será particularmente relevante na prática clínica e para fazer avançar a medicina preventiva e personalizada”.

Relativamente à conquista do Prémio Pulido Valente Ciência, Sara Rocha confessa que se trata de “uma enorme honra e responsabilidade”, até porque “dá-nos uma motivação adicional para continuarmos o nosso trabalho, na procura de soluções que atenuem ou eliminem o sofrimento dos doentes oncológicos.

“Sinto-me muito grata não só pela atribuição do prémio, mas por ter tido o privilégio de realizar este trabalho num ambiente tão estimulante. Espero que esta contribuição possa desencadear novas perguntas, que desvendem respostas inovadoras e com impacto clínico efetivo”, acrescenta a jovem investigadora, que desenhou todo o seu percursos académico na U.Porto (ver biografia abaixo)

Este prémio é o segundo a distinguir o trabalho de Sara Rocha e da equipa do i3S. Em setembro de 2020, a equipa de investigação já tinha recebido o prémio de melhor comunicação oral no II ENJIO- Encontro Nacional de Jovens Investigadores em Oncologia, atribuído pela Liga Portuguesa contra o Cancro.

Sobre Sara Rocha

Mestre em Bioengenharia pela Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), Sara Rocha concluiu recentemente o doutoramento em Biotecnologia Molecular e Celular aplicada às Ciências da Saúde, no âmbito do Programa BiotechHealth do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).

Durante a tese de mestrado, desenvolvida no INEB e no Ipatimup – ambos  integrados no i3S – , participou na criação de um modelo in vitro 3D para estudar a transição epitélio-mesenquima associada ao processo de metastização em cancro. Viria a profundar este trabalho na  sua tese de doutoramento, dedicada ao estudo da interação entre células tumorais, vesículas extracelulares e células imunes, e como é que estas interações contribuem para a progressão do cancro.

Este projeto levaria a investigadora a colaborar com outros laboratórios nacionais e internacionais, tais como o iMM (Lisboa) e o INL (Braga), a Universidade de Freiburg (Alemanha) e LUMC (Países Baixos). Estas colaborações resultaram, até ao momento, em cinco publicações científicas, duas das quais como primeira autora.

Joana Rocha integra ainda a equipa da iLoF, uma startup incubada na Faculdade de Medicina da U.Porto  (FMUP) e que se vem destacando no desenvolvimento de ferramentas no domínio da “medicina personalizada”.