A investigadora Diana Fonseca, estudante do Programa Doutoral em Engenharia Biomédica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, a fazer investigação no grupo “Bioengineered Surfaces”, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), foi recentemente distinguida com o prémio «Melhor apresentação de poster 2020, atribuído no âmbito da 33.ª edição do Workshop anual do European Helicobacter and Microbiota Study Group.

Denominado «A deadly hug: chitosan microspheres functionalized with MSI-78A antimicrobial peptide kill Helicobacter pylori», o trabalho de Diana Fonseca, orientado por Cristina Martins e Paula Parreira, apresenta uma estratégia alternativa aos antibióticos clássicos para o tratamento da infeção gástrica por Helicobacter pylori (H. pylori). Presente em 50% da população mundial, esta bactéria está relacionada com o aparecimento de gastrite, ulcera péptica e determinados tipos de cancro gástrico.

Atualmente, os tratamentos disponíveis, baseados em combinações de pelo menos dois antibióticos falham em cerca de 30% dos pacientes. Por isso mesmo, a H. pylori é considerada pela OMS como uma das bactérias que representa maior ameaça para a saúde pública, principalmente pela sua resistência aos antibióticos disponíveis.

Estratégia inovadora e com “elevado potencial”

No trabalho agora premiado, “foram utilizados péptidos antimicrobianos [produzidos por diferentes organismos num contexto de defesa ou resposta imune], cuja eficácia bactericida contra a H. pylori foi previamente demonstrada pelo nosso grupo. Sabemos que no trato gastrointestinal estes péptidos podem sofrer degradação e/ou agregação, o que leva à redução da sua eficácia, mas estas desvantagens podem ser ultrapassadas pela sua imobilização na superfície de um biomaterial, neste caso as microesferas de quitosano”, explica Diana Fonseca

Com o objetivo de “ultrapassar a degradação gástrica após a sua administração oral”, acrescentam Cristina Martins e Paula Parreira, “estas microsferas foram reticuladas com compostos biocompatíveis para manterem a sua integridade numa gama de pH que mimetizou o ambiente gástrico”.

Diana Fonseca esclarece que “quando testadas contra uma estirpe humana altamente patogénica (H. pylori J99), estas microesferas têm um efeito bactericida após duas horas” . Os resultados deste estudo, concluem as investigadoras, “revelam o elevado potencial desta estratégia inovadora para a erradicação da infeção por H. pylori.

A) Efeito destrutivo das microesferas desenvolvidas na morfologia da bactéria Helicobacter pylori; B) Helicobacter pylori (imagens obtidas por microscopia eletrónica de varrimento)

 

 

 

 

Um “enorme orgulho”

Para Diana Fonseca, ter recebido um prémio numa área de que tanto gosta representa um “enorme orgulho”.

“O reconhecimento desta estratégia inovadora nesta conferência tão importante para a área foi muito gratificante, não só para mim como para todos os envolvidos no trabalho. E é, sem dúvida, um incentivo para continuar os estudos e possivelmente conseguir ultrapassar uma das grandes dificuldades que se tem enfrentado: a resistência aos antibióticos clássicos por este patogénio gástrico”, projeta a jovem investigadora.

A 33.ª edição do Workshop do European Helicobacter and Microbiota Study Group decorreu no passado dia 12 de setembro, em formato virtual.