A investigadora Ângela Fernandes, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), conquistou recentemente uma bolsa bilateral de investigação, no valor de três mil euros, atribuída pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), pela Embaixada Britânica Lisboa – UK Science and Innovation Network e pela Associação Portuguesa de Investigadores e Estudantes no Reino Unido (PARSUK). Esta bolsa permitirá à investigadora trabalhar numa nova estratégia terapêutica a ser aplicada em doenças autoimunes e, futuramente, em cancro.

Segundo a investigadora do grupo «Immunology, Cancer & Glycomedicine» do i3S, o projeto premiado visa “desvendar o impacto de linfócitos T reguladores que apresentam modificações nas cadeias de açucares na regulação da resposta imune em doenças autoimunes”. Em particular, acrescenta Ângela Fernandes, “vamos estudar o impacto da reprogramação da glicosilação das células T reguladoras numa doença autoimune especifica que é a Miastenia Gravis (MG)”.

A MG afeta as junções neuromusculares, levando a fraqueza muscular generalizada e fadiga, com consequente restrição crónica e gradual das funções diárias dos doentes podendo levar à morte.

“Os nossos dados preliminares demonstraram que as células T reguladoras de doentes com MG apresentam uma composição de açúcares alterada, caracterizada por défices de estruturas especificas de glicanos, quando comparados com as células T reguladoras de indivíduos saudáveis. Estas evidências constituíram a base deste projeto, que conta com a participação do serviço de Neurologia do Centro Hospitalar e Universitário do Porto e com a colaboração do Departamento de Neurologia Clínica do Hospital John Radcliffe, em Oxford, no qual planeámos reprogramar a glicosilação das células T reguladoras antevendo o controlo da resposta imune”, explica Ângela Fernandes.

Os resultados obtidos com este projeto, sublinha a investigadora, “serão cruciais para clarificar o impacto dos glicanos na modulação das atividades das células T reguladoras na autoimunidade e propor a reprogramação destas células como uma potencial estratégia terapêutica para controlar e prevenir doenças autoimunes e mesmo, num espectro diferente, o cancro”.

Entre Portugal e o Reino Unido

O projeto de Ângela Fernandes será desenvolvido no grupo «Immunology, Cancer & Glycomedicine» do i3S, liderado por Prof. Salomé Pinho, em colaboração com a neurologista Maria Isabel Leite, do Departamento de Neurologia Clínica do Hospital John Radcliffe, em Oxford, no Reino Unido.

O financiamento agora atribuído permitirá precisamente à investigadora aceder a um número elevado de amostras humanas de pacientes com MG disponíveis no Hospital John Radcliffe e caracterizar o seu perfil de glicanos. Por outro lado, “irá também fortalecer as relações/colaborações entre as duas instituições envolvidas”.

Para Ângela Fernandes, a atribuição desta grant “representa não só a valorização e reconhecimento da investigação científica do nosso grupo de investigação no i3S, mas também a importância e o impacto do estudo na área da autoimunidade”.

A investigadora júnior do i3S perspetiva ainda que “a oportunidade de liderar este projeto de investigação inovador com uma equipa multidisciplinar e internacional representa um desafio extremamente motivante e impulsionador dos próximos passos na minha carreira científica».