Ana Luísa Gonçalves, investigadora do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE), da Faculdade de Engenharia da Universidade Porto (FEUP), é uma das quatro jovens cientistas portuguesas que vão ser distinguidas esta quarta-feira com as prestigiadas Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência, atribuídas pela gigante multinacional de cosméticos. 

No âmbito do projeto premiado, a investigadora da FEUP pretende avaliar o potencial das microalgas para tratar de forma mais eficiente e sustentável os efluentes industriais que, mesmo após tratamento primário e secundário, continuam a apresentar elevadas concentrações de azoto e fósforo.

“Estes dois nutrientes têm impactos negativos nos ecossistemas aquáticos – e limites legais a cumprir – mas por serem nutrientes essenciais para as microalgas, contribuem para o crescimento e a riqueza das próprias, cuja biomassa poderá ainda ser utilizada em novas aplicações”, admite Ana Luísa Gonçalves.

Para cumprir este duplo objetivo, a investigadora de 30 anos vai promover o tratamento terciário dos efluentes industriais com culturas de microalgas e ainda estudar três aplicações para a biomassa a partir daquelas: a extração de pigmentos a utilizar como corantes na indústria têxtil; a extração de lípidos e posterior conversão em biodiesel e a produção de biofertilizantes a partir da biomassa resultante destas duas extrações.

“O azoto e fósforo são importantes nutrientes para o crescimento de microrganismos fotossintéticos, como as microalgas. Assim, temos uma cultura de microalgas que, além de contribuir para o tratamento dos efluentes, gera uma biomassa muito rica em pigmentos fotossintéticos, proteínas, hidratos de carbono, lípidos e outros elementos, que pode ser utilizada na produção de pigmentos naturais, biocombustíveis, biofertilizantes, entre outros”, explica a jovem cientista.

Mais-valias para a indústria

O trabalho de Ana Luísa centra-se então no tratamento terciário dos efluentes das indústrias têxtil e da pasta e papel, dois importantes setores económicos nacionais, responsáveis por um Valor Acrescentado Bruto (VAB) superior a 4,185 e 2,322 mil milhões de euros (dados de 2017).

Na verdade, ambas as indústrias podem  vir a beneficiar das aplicações em estudo, numa lógica de economia circular, uma vez que a biomassa produzida no tratamento de águas residuais será potencialmente integrada nas respetivas cadeias de valor.

Em paralelo, as microalgas tornam os processos de tratamento de efluentes mais sustentáveis. “As culturas de microalgas consomem luz solar e dióxido de carbono, sem recurso a agentes químicos adicionais, ao contrário dos métodos físico-químicos ou biológicos hoje aplicados”, refere Ana Luísa.

Premiar a inovação no feminino

Para além de Ana Luísa Gonçalves, a 16.ª edição das Medalhas L’Oréal distinguiu ainda as investigadoras Ana Rita Carlos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Cristina Godinho Silva, da Fundação Champalimaud e Diana Priscila Pires, da Universidade do Minho.

Selecionadas entre mais de 80 candidatas, por um júri científico presidido por Alexandre Quintanilha, as quatro jovens investigadoras vão receber um prémio individual de 15 mil euros, que visa apoiar as suas pesquisas nas áreas da saúde e ambiente, assim como inspirar uma ciência e uma sociedade mais inclusiva e equitativa.

Foi, de resto, para promover esta mudança na ciência portuguesa que a L’Oréal lançou, em 2004, a Medalha de Honra L`Oréal. A iniciativa resulta de uma parceria com a Comissão Nacional da UNESCO e com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia., e insere-se por sua vez no programa L’Oréal-UNESCO For Women in Science.

Entre as 53 cientistas – todas elas doutoradas, com menos de 35 anos, e a desenvolver a sua investigação em Portugal nas áreas da saúde e do ambiente – distinguidas anteriormente destacam-se mais oito investigadoras da U.Porto. São elas: Sandra Sousa (IBMC, 2005), Maria Oliveira (INEB, 2009), Joana Marques (FMUP, 2010), Inês Gonçalves (INEB, 2014),  Joana Tavares (IBMC, 2014), Sónia Melo (Ipatimup, 2015), Maria Inês Almeida (i3S, 2017) e Joana Caldeira (i3S, 2019).

A cerimónia de entrega da 16ª edição das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência tem lugar esta quarta-feira, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.