Um relatório recente da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) “avisa” que o número de pessoas afetadas por guerras, perseguições e conflitos superou a marca dos 70 milhões, em 2018. A isto acresce ainda o fator tempo que é sempre pouco quando se lida com situações de emergência grave: numa altura em que praticamente tudo falha, é necessário criar soluções estruturais e que consigam ser mais eficazes do que as tendas em lona e com estruturas improvisadas pelos locais.

Um projeto de investigação no âmbito do Mestrado em Design Industrial e de Produto das faculdades de Engenharia (FEUP) e Belas Artes da Universidade do Porto, encabeçado por Alice Costa, pode muito bem ser a primeira tentativa para solucionar este problema.

A proposta da estudante assenta essencialmente no desenvolvimento de abrigos baseados em “tecnologias inovadoras como a impressão 4D, onde é possível desenvolver estruturas 3D usando materiais com memória que podem reagir posteriormente a estímulos ambientais como a água, luz, calor”.

“Além disso, e ao contrário da impressão 3D que é estática, o fator tempo acrescenta uma dimensão 4D, fazendo com que estruturas possam ser auto-montáveis, multifuncionais ou até auto-reparáveis”, explica Alice Costa.

O caminho percorrido

Para já, e enquanto esta tecnologia “made in U.Porto” não chega a quem mais precisa, o registo de patente foi já submetido. Nesse sentido, foi desenvolvido com sucesso um caso demonstrativo deste processo, através da impressão com filamentos, nomeadamente ácido polilático (PLA) e polímeros com memória de forma (SMP). Foi igualmente validado o conceito sobre a possível aplicação da impressão 4D – utilizando filamentos SMP – no desenvolvimento de estruturas de fácil transporte e montagem para situações de emergência.

Realizado sob orientação de Jorge Lino, diretor adjunto do Mestrado em Design Industrial e de Produto e também do Design Studio da FEUP, António Torres Marques e Bárbara Rangel, ambos investigadores e professores da FEUP, o trabalho de investigação de Alice Costa permitiu assim validar um conceito inovador no que toca à montagem destes kits de emergência em situação de crise humanitária.

O trabalho lança, ao mesmo tempo, sugestões para a melhoria das propriedades “de rigidez e resistência específica que podem ser obtidas com a utilização de materiais compósitos”.