O Secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, (direita) entrega a Rui Bergantim (esq.) o certificado de vencedor da Bolsa de Investigação Amgen/APCL .

A primeira edição da Bolsa de Investigação em Mieloma Múltiplo foi atribuída a Rui Bergantim, investigador do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Portoe da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), estudante de doutoramento da FMUP e Hematologista Clínico do Centro Hospitalar S. João. Esta bolsa, no valor de 15 mil euros, é uma iniciativa das Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL), Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) e Amgen Biofarmacêutica e vai permitir ao investigador estudar biomarcadores que indiquem a resistência a determinados fármacos por parte de doentes com mieloma múltiplo, um tipo raro de cancro hematológico que tem origem nas células plasmáticas.

O objetivo do projeto distinguido, denominado Identifying microRNAs as biomarkers of drug resistance in multiple myeloma patients: a pilot project to contribute to guiding personalized therapeutic decisions, é, segundo Rui Bergantim, «identificar biomarcadores de resistência e sensibilidade dos doentes antes que estes iniciem o tratamento, através de uma análise sanguínea, de forma a proporcionar uma terapêutica personalizada e eficaz, evitando a toma de medicação desnecessária».

Ao longo do projeto, que terá a duração de um ano, os especialistas pretendem estabelecer padrões de associação entre os biomarcadores identificados, as características clínicas e analíticas clássicas (como por exemplo a citogenética) e os critérios de resposta às terapêuticas efectuadas. Esperam ainda explorar novas metodologias, como as biópsias líquidas, de modo a evitar a realização de biópsias ósseas, consideradas invasivas e dolorosas.

Segundo Rui Bergantim, nos últimos anos foi possível aumentar muito a sobrevida [tempo de vida após o diagnóstico] dos doentes portadores de mieloma múltiplo, devido à evolução da medicina, transformando «uma doença que era fatal, em crónica». «Há dez anos, os doentes diagnosticados com esta patologia tinham uma sobrevida inferior a dois anos, no entanto, hoje em dia, conseguem ter entre cinco a dez anos», período que o especialista acredita «vir a aumentar no futuro». Com o auxílio desta bolsa, os investigadores vão dar início aos testes das cerca de 140 amostras (70 de sangue e 70 de medula óssea) recolhidas até ao momento, contando ter resultados preliminares no próximo ano.

Da esquerda para direita: Rui Bergantim, Eduardo Guimarães (Presidente SPH), Fernando Leal da Costa, Carlos Horta e Costa (Vice Presidente da APCL).

O projeto vai ser desenvolvido no grupo «Cancer Drug Resistance» do i3S/Ipatimup e no Centro Hospitalar São João (CHSJ). Do projeto fazem ainda parte a líder do grupo de investigação e Professora Auxiliar na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, Helena Vasconcelos, e Fernanda Trigo Miranda, médica – Hematologista Clínica no CHSJ.

Sobre o mieloma múltiplo

O mieloma múltiplo é uma doença sem cura, com origem numa população monoclonal (anormal) de plasmócitos, sendo detectável, entre outras características, pela produção anormal de uma proteína monoclonal detectável no sangue ou urina. Manifesta-se, geralmente, ao atingir órgãos como os rins, os ossos e a própria medula óssea. Atinge, habitualmente, indivíduos entre os 60 e os 65 anos, sendo a maior parte dos sintomas «muito genéricos e inespecíficos», como a dor óssea, o cansaço/perda de forças e edemas periféricos, o que leva, muitas vezes, a um diagnóstico tardio.

Em Portugal, estima-se que a cada ano surjam 513 novos casos de mieloma múltiplo, segundo os dados publicados pelo Globocan (plataforma que fornece estimativas sobre a incidência, a mortalidade e a prevalência dos principais tipos de cancro em 184 países), relativos ao ano de 2012 (Globocan 2012 Estimated Cancer Incidence, Mortality and Prevalence Wordwide in 2012).

Dirigida a investigadores nacionais ou estrangeiros, desde que desenvolvam projetos em instituições portuguesas, a Bolsa de Investigação em Mieloma Múltiplo, segundo os promotores da iniciativa, representa mais um passo no desenvolvimento do conhecimento sobre o mieloma múltiplo. Esta é uma doença hemato-oncológica rara, «para a qual existe ainda necessidade de disponibilizar tratamentos mais efetivos que aumentem a sobrevivência e qualidade de vida dos doentes».

«Foi com grande entusiasmo que constatámos uma grande adesão por parte dos investigadores que desenvolvem os seus trabalhos em instituições portuguesas», disse Manuel Abecassis, presidente da Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL). «Receber um total de oito candidaturas é um sinal bastante positivo de que a comunidade científica se interessa e quer desenvolver a área do mieloma múltiplo. Na Amgen sentimo-nos honrados por podermos fazer parte deste projeto ao lado da APCL e SPH», concluiu Tiago Amieiro, diretor-geral da Amgen Biofarmacêutica. «Um dos objetivos da SPH passa por apoiar iniciativas de caráter técnico-científico na área hemato-oncológica, que permitam uma constante evolução em prol da qualidade de vida do doente. Estamos muitos satisfeitos em relação ao vencedor», referiu, por sua vez, José Eduardo Guimarães, presidente da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH).