Américo Agostinho é enfermeiro, investigador do CINTESIS e estudante de doutoramento da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP).

Américo Agostinho, investigador do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde foi distinguido com uma bolsa de investigação de 200 mil francos suíços, concedida pelos Hospitais Universitários de Genebra (HUG), para o desenvolvimento de uma ferramenta que poderá reduzir em mais de 25% as falhas de administração de antibióticos na profilaxia cirúrgica.

Intitulado Improving perioperative antimicrobial prophylaxis by the use of a computerized decision support system, o projeto tem como objetivo principal avaliar a eficácia de um sistema computadorizado de apoio à decisão para melhorar a qualidade da administração da profilaxia antimicrobiana perioperatória, verificando depois o seu impacto clínico na prevenção de infeções do local cirúrgico nas intervenções da anca, joelho, cólon, reto, neurocirurgias lombares e cirurgias cardíacas. Está a ser desenvolvido no âmbito da tese do investigador no Programa Doutoral em Investigação Clínica e em Serviços de Saúde (PDICSS) da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Ou seja, “da mesma forma que um GPS indica o caminho a seguir, o sistema que estamos a desenvolver vai indicar aos médicos, no bloco operatório, que antibióticos administrar, em que quantidade e com que intervalo de tempo (deixando sempre a possibilidade de seguir ou não essa indicação). No entanto, este lembrete vai permitir diminuir os erros de administração”, explica Américo Agostinho.

Segundo as guidelines internacionais, há um antibiótico recomendado para cada operação, em função do risco de infeção associado a essa cirurgia. Mas, devido a vários fatores (urgência, inexperiência, falta de tempo, etc.) registam-se taxas de erro em torno dos 30% na administração de antibióticos na profilaxia cirúrgica. “Estes erros aumentam as infeções hospitalares bem como as resistências aos antimicrobianos”, alerta o especialista em prevenção da infeção.

Assim, o novo programa vai recolher dados do doente que já estão no sistema informático do hospital (como o tipo de cirurgia, peso do paciente, as alergias, se tem ou não agentes microbianos patogénicos…) para propor o antibiótico mais adequado e relembrar se deve ser re-administrado, no caso de a operação se prolongar por várias horas.

Note-se que as infeções hospitalares foram reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos fatores que mais comprometem a segurança dos doentes no âmbito da prestação de cuidados de saúde. “As infeções do local cirúrgico são responsáveis ​​por 20 a 30% das infeções hospitalares, mas são elas que têm maior influência em termos de morbilidade, mortalidade e despesas para os hospitais e para a sociedade”, lê-se no resumo do projeto distinguido.

As taxas de infeção do local cirúrgico variam entre 2% a 20%, dependendo do hospital e tipo de cirurgia, com uma taxa de mortalidade estimada entre 0,4 a 0,8%. “Isto significa que em todo o mundo, por ano, cerca de 7 milhões de doentes desenvolvem uma infeção do local cirúrgico, das quais morrem 1 milhão”, contextualiza o investigador.

Américo Agostinho diz que se sente honrado com a atribuição do financiamento e atribui o sucesso do seu projeto aos conhecimentos adquiridos nos HUG e às capacidades e metodologia desenvolvidos com a frequência do PDICSS. “Não tenho dúvidas de que a formação neste doutoramento foi um fator determinante para que eu conseguisse desenhar um projeto científico de elevado interesse público, com alto nível metodológico, capaz de concorrer e vencer os outros 15 que também foram submetidos”, explica o investigador, recomendando este programa doutoral pela “formação sólida, inovadora e cientificamente relevante”.

Américo Agostinho é enfermeiro especialista em prevenção e controlo da infeção, no serviço homólogo nos HUG, liderado por Didier Pittet, referência mundial na área da higienização das mãos.

O projeto vai envolver mais sete investigadores dos HUG, um investigador da Universidade de São Paulo e dois investigadores do CINTESIS.