Foi a 8 de setembro que David Barros embarcou a bordo do do navio oceanográfico “Vizconde de Eza” para o arranque da campanha de pesca de arrasto Porcupine (SP-PORC-Q3). Seguiram-se cinco semanas de trabalho intensivo, em que o investigador do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) teve a oportunidade de participar na avaliação dos recursos piscatórios que vivem no fundo do mar (demersais).

Inserida na coordenação do Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES), esta campanha – liderada pelo Instituto Espanhol de Oceanografia (IEO-CSIC) – tem sido realizada no Porcupine Bank, em águas irlandesas, desde 2001. O objetivo passa por aumentar o conhecimento científico dos oceanos e a sustentabilidade dos recursos pesqueiros.

A campanha deste ano, que terminou no dia 14 de outubro com a chegada a Vigo (Espanha), teve como principal propósito estimar os índices de abundância das espécies demersais e bentónicas do banco. Para tal, foi dada especial atenção às espécies comercialmente exploradas pela frota espanhola na zona, como a pescada (Merluccius merluccius) e o tamboril (Lophius piscatorius e Lophius budegassa).

A amostragem incluiu 91 lanços válidos, 85 deles entre 300 e 800 metros e seis “lanços especiais” (entre 1.100 e 1.500 metros de profundidade). Ao todo, David Barros obteve amostras de 87 espécies (tanto teleósteos quanto elasmobrânquios).

“Esta campanha permitiu obter espécimes e iniciar a construção de um banco de tecidos de espécies de peixes de profundidade pouco estudadas e muito difíceis de amostrar, levando a colaborações com outras instituições, e publicações científicas. Essas amostras também poderão ser utilizadas para futuros estudos moleculares no CIIMAR”, destaca David Barros.

Uma dessas colaborações com o CIIMAR ocorre no âmbito do projeto PERSEAVE, que começará oficialmente no próximo ano e visa estudar a evolução dos sistemas sensoriais em peixes demersais de profundidade usando um grupo de peixes relativamente desconhecido (gênero Notacanthus) como modelo.

Apesar do grande número de funções que os sistemas sensoriais têm nos peixes, tais como avaliação de habitat, descoberta de alimentos, prevenção de predadores, descoberta de parceiros, etc. existe pouca informação sobre este assunto em espécies de águas profundas. Porém, não se sabe como as mudanças no ecossistema induzidas pelas atividades humanas podem alterá-los, por exemplo, o aumento dos níveis de CO2 na água pode bloquear os recetores no sistema olfativo.

Algumas das amostras obtidas durante a campanha serão objeto de análises transcriptômicas para fins do projeto PERSEAVE, e mais algum material biológico foi coletado para atividades de divulgação.