O investigador Rui Seabra, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), da Universidade do Porto, acaba de ser distinguido com a primeira edição do FLAD Science Award Atlantic, atribuído pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD). O prémio, no valor de 300 mil euros, será aplicado num estudo pioneiro sobre o impacto das alterações climáticas na biodiversidade marinha das zonas costeiras do Atlântico Norte.

A desenvolver ao longo dos próximos três anos, o projeto CCTBON – North Atlantic Coupled Coastal Temperature and Biodiversity Observation Network (North Atlantic CCTBON) propõe-se, nas palavras de Rui Seabra, a “implementar a maior e mais detalhada rede de monitorização da temperatura e biodiversidade costeira do mundo”.

Ao todo, serão monitorizadas 85 praias rochosas espalhadas por todo o Atlântico Norte, das Caraíbas à Gronelândia, ao longo das costas Europeias, Africanas e Americanas, e incluindo todas as ilhas oceânicas.

A grande inovação do projeto prende-se com a utilização de mais de 2000 sensores de temperatura especialmente desenhados para o efeito, e que permitirão medir a temperatura da água ao longo de toda a costa do Atlântico Norte com um grau de precisão inédito.

Com uma vida útil superior a 10 anos, estes sensores vão permitir recolher dados a uma escala sem precedentes, ajudando os investigadores a compor um “retrato” inédito sobre o impacto das alterações climáticas na biodiversidade marinha.

O projeto prevê ainda o desenvolvimento de aplicações inovadoras para smartphone e tablet, através das quais será possível recolher os dados de temperatura e biodiversidade de uma forma mais simples, rápida e uniforme.

O projeto vai utilizar mais de 2000 sensores para medir a temperatura da água ao longo de toda a costa do Atlântico Norte. (Foto: DR)

Um esforço global

Com os dados recolhidos através do projeto, Rui Seabra acredita então que “será possível obter uma nova perspetiva sobre a forma como a temperatura molda a biodiversidade”. Por outro lado, permitirá abrir as portas à “realização de estudos inovadores em ecologia e oceanografia costeira, deteção direta dos efeitos das alterações climáticas, e a identificação de refúgios climáticos e de hot-spots de biodiversidade com um detalhe e abrangência sem paralelo”.

Para desenvolver o estudo, o biólogo – doutorado em Biodiversidade GHenética e Evolução pela Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP) – conta com o apoio de estudo de uma equipa de investigadores do CIBIO-InBIO com vasta experiência na implementação de redes de sensores ambientais em zonas costeiras.

O trabalho contará ainda com a colaboração de nove das principais equipas de investigadores a nível global que atualmente estudam a biodiversidade costeira no Atlântico Norte.

Ainda de acordo com Rui Seabra, o projeto CCTBON “responde diretamente às necessidades identificadas na recente e ambiciosa estratégia da União Europeia para a biodiversidade”. Por outro lado, “encaixa perfeitamente na estratégia para a próxima década no CIBIO, sobretudo no âmbito do fantástico projeto BIOPOLIS que irá projetar o centro para um novo patamar científico”.

Rui Seabra é licenciado em Biologia e  doutorado em Biodiversidade Genética e Evolução pela FCUP. (Foto: DR)

“Vai mudar a nossa perceção global do Atlântico”

A ambição do investigador é, de resto, partilhada pelos três membros do comité científico do júri do prémio FLAD. “É um projeto que olha para as zonas costeira ao longo de todo o Atlântico Norte, que são zonas particularmente afetadas pela mudança climática. É ambicioso, é interessante, é exigente, e é do ponto de vista organizativo muito complexo de fazer. Mas acreditamos que vai mudar a nossa perceção global do Atlântico”, antevê Miguel Miranda, Professor Catedrático na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e presidente do IPMA.

Também Elsa Henriques, do Conselho Executivo da FLAD, enaltece “a qualidade da atividade científica do investigador Rui Seabra. E, não menos importante, o prémio vai permitir que Portugal possa liderar a colaboração entre um significativo número de investigadores que desenvolvem trabalhos em prol da sustentabilidade oceânica”

Já Pedro Camanho, Professor Catedrático na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e presidente do LAETA, acredita que “os resultados do projeto serão importantes para definir estratégias para preservar a fauna e a flora nesta região”.

Sobre o FLAD Science Award Atlantic

Instituído em 2019, o FLAD Science Award Atlantic destina-se a jovens investigadores em início de carreira a trabalhar em Portugal, no domínio das engenharias e com objetivos de investigação centrados no oceano Atlântico.

Com esta iniciativa, a FLAD propõe-se igualmente a “promover e distinguir a investigação no Atlântico pela sua importância decisiva para compreender áreas muito diversas, desde a interação entre os oceanos, a atmosfera e o espaço, às alterações climáticas, fenómenos naturais e sustentabilidade”.