Embora os leões sejam dos seres vivos mais emblemáticos do mundo, pouco se sabe sobre como evoluíram ao longo do tempo. Mas um consórcio internacional, do qual faz parte o geneticista Agostinho Antunes, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), e professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), analisou dados genómicos de 20 espécies de leões – alguns dos quais com 30 mil anos – e “atreve-se” a escrever um pouco da história do “rei-da-selva”.

O estudo, agora publicado na prestigiada revista PNAS, conclui que o leão-das-cavernas (Panthera leo spelaea) – espécie que existiu durante a idade do gelo se distribuiu desde a Península Ibérica até ao Alasca – e os leões modernos compartilhavam o mesmo ancestral, tendo-se as duas linhagens separado há cerca de 500.000 anos atrás.

O trabalho liderado por investigadores de vários países europeus e dos EUA mostra ainda que as duas linhagens provavelmente não hibridaram após a sua divergência. Ou seja, desde então nunca mais voltaram a cruzar-se entre si, o que constitui um aspeto determinante para o nascimento de novas espécies.

Segundo Agostinho Antunes, e no que diz respeito apenas aos leões modernos, encontraram-se “duas linhagens principais que divergiam há cerca de 70.000 anos atrás, com clara evidência do fluxo génico subsequente”.

Ainda sobre a mesma população, os dados do estudo revelam uma quase completa ausência de diversidade genética dentro dos leões indianos, “provavelmente devido ao tamanho muito reduzido da população e bem documentado no passado recente”, complementa o investigador.

Professor Auxiliar do Departamento de Biologia da FCUP, Agostinho Antunes lidera o Grupo de Genómica Evolutiva e Bioinformática do CIIMAR. (Foto: DR)

Em defesa da conservação

Agostinho Antunes, que já havia anteriormente dedicado todo um estudo ao tema dos leões em 2008, analisando em simultâneo a genética de leões e de um vírus altamente prevalente associado – o VIF (vírus da imunodeficiência felina, semelhante ao HIV em humanos), realça o potencial deste estudo, quer ao nível do conhecimento da história destes seres vivos emblemáticos, como nos esforços para a sua conservação.

“Os nossos dados contribuem para o entendimento da história evolutiva dos leões e complementam os esforços de conservação para proteger a diversidade desta espécie vulnerável que, nos últimos 200 anos, sofreu uma redução de cerca de 90% do seu tamanho populacional, encontrando-se em grande declínio”, remata o investigador e professor da U.Porto.

Recorde-se que Agostinho Antunes já tinha participado anteriormente em vários estudos que conduziram à descodificação dos genomas de espécies como o tubarão-branco, o pangolim, o jaguar, ou, mais recentemente, da lula gigante.