É a primeira ERA Chair liderada pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e acaba de ser atribuída ao grupo de investigação coordenado pelo investigador Nuno F. Azevedo, do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE), que integra o Laboratório Associado Alice. São 2.5 milhões de euros para criar um grupo de investigação de excelência em engenharia de biofilmes, contando com a experiência e colaboração de Darla Goeres, do Centro de Engenharia em Biofilmes da Universidade Estadual de Montana nos EUA, considerada uma referência mundial na área dos biofilmes.

“O facto de termos conseguido trazer para a FEUP uma investigadora tão importante na área dos biofilmes como é o caso da Prof. Darla Goeres, demonstra que a comunidade internacional acredita no trabalho que estamos a desenvolver”, destaca Nuno F. Azevedo.

Os biofilmes são comunidades de microrganismos, como bactérias e fungos, que se encontram incorporados numa matriz que eles próprios produzem. Estas comunidades são ubíquas no ambiente e na indústria e desempenham muitas vezes papéis cruciais no desenvolvimento de infeções.

“Embora sejam ainda pouco reconhecidos, os biofilmes afetam várias áreas relevantes para a sociedade como a saúde, a indústria e o ambiente. Na saúde, os biofilmes são reconhecidos como sendo uma das principais causas de infeções crónicas e do desenvolvimento de resistência a agentes antimicrobianos por parte dos microrganismos”, explica o investigador do LEPABE.

Na verdade, estima-se que 80% das infeções microbianas resultem da resistência dos biofilmes bacterianos, o que representa cerca de 100 mil mortes anuais só nos EUA, afetando diferentes atividades humanas e que vão desde o processamento de alimentos, transportes e infraestruturas públicas.

Dados recentes apontam para que 65% das infeções microbianas e 80% de infeções crónicas estejam associadas à formação do biofilme, embora não sejam tratadas como tal, o que dificulta o resultado positivo dos pacientes.

O projeto agora financiado pela European Research Executive Agency permitirá assim “desenvolver novos métodos que caracterizem os biofilmes com um detalhe até agora inatingível, de forma a permitir um maior controlo sobre a sua formação”, menciona Nuno F. Azevedo. “A ideia base do projeto tinha já sido publicada como uma história ficcionada na prestigiada revista Trends in Microbiology”, finaliza.

Sobre Nuno F. Azevedo

Licenciado em Engenharia Biológica em 2001 na Universidade do Minho (UMinho), Nuno F. Azevedo prosseguiu com o doutoramento em Tecnologia Química e Microbiana em 2005 na U.Minho e na Universidade de Southampton, Reino Unido. Em 2009 iniciou uma posição de Investigador Auxiliar no Biofilm Engineering Lab (BEL) do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE) na FEUP. É Professor Auxiliar da FEUP desde 2018, lecionando unidades curriculares das licenciaturas e mestrados em Bioengenharia, Engenharia Química ou Engenharia do Ambiente.

A nível científico, é autor ou coautor de mais de 100 artigos em revistas internacionais avaliadas por pares, coeditou três livros, submeteu sete patentes e é cofundador da empresa de biotecnologia Biomode SA, à qual foram concedidos mais de 1,5 milhões de euros em fundos de investimento. A exploração do potencial de mímicos de ácidos nucleicos para a eliminação de bactérias resistentes a antibióticos em biofilmes é uma das suas principais linhas de investigação.

Frequentemente convidado como orador para congressos científicos internacionais e para avaliar projetos da Comissão Europeia e de agências nacionais de apoio à investigação em países como a França, Suíça, Estónia ou Polónia, Nuno F. Azevedo é um dos membros do International Biofilm Standards Task Group, que visa o desenvolvimento de tecnologias para tornar os biofilmes mais reprodutíveis.

Foi ainda o coordenador do projeto europeu “DelNAM- Delivery of Nucleic acid mimics (NAMS) into bacteria to fight the antibiotic crisis”, e o responsável na FEUP pelo projeto europeu “PRINT-AID-European training network for development of personal anti-infective medical devices combining printing technologies and antimicrobial functionality”

As ERA Chairs

As ERA Chairs são mecanismos de financiamento promovidos pela União Europeia com o objetivo de ajudar as universidades e outras instituições científicas a atrair e manter recursos humanos de alta qualidade.

Os projetos das ERA CHAIR juntam investigadores de destaque, com excelência comprovada em investigação e capacidade de gestão, a universidades e instituições de investigação dos países em expansão, com potencial para excelência em investigação.

O objetivo é atrair e manter recursos humanos de alta qualidade, sob a direção de um investigador destacado, o titular da ERA CHAIR e, ao mesmo tempo, implementar as mudanças estruturais necessárias para alcançar a excelência nas instituições de forma sustentável.