Simular pequenos tumores em laboratório pode ajudar a tratar o cancro da mama triplo-negativo? Esta foi a questão colocada pelo projeto científico da investigadora Sandra Tavares, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), e que lhe valeu uma das quatro Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência, atribuídas este ano. A cientista vai receber 15 mil euros para desenvolver terapias mais eficazes e menos tóxicas.

O Cancro da Mama Triplo-Negativo afeta 13 em cada cem mil mulheres por ano em todo o mundo e representa cerca de 15% da incidência de cancros de mama invasivos. Triplo negativo significa que nenhuma das moléculas para as quais existe tratamento está presente nestas células tumorais.

Apesar de ser considerado um tipo de cancro da mama raro, o nível de agressividade e rápida metastização são preocupantes porque as opções terapêuticas não funcionam e uma grande maioria dos pacientes não sobrevive ao agravamento da doença. O projeto de investigação de Sandra Tavares pretende estudar essas células, em organoides criados a partir de tumores de pacientes, e compreender os mecanismos moleculares que estão presentes e que as tornam tão agressivas.

Neste trabalho, explica a investigadora, “temos como objetivo identificar proteínas que potenciam a invasão de outros órgãos e metástases”. Para tal, “vamos usar uma combinação inovadora de rastreios que nos permitirão avaliar níveis de expressão de genes e níveis de proteínas em estruturas tridimensionais (organoides) que se comportam como pequenos tumores, e que podem ser manipulados em laboratório”.

Sandra Tavares espera assim “contribuir para a conceção de novas terapias, dirigidas e personalizadas, que irão melhorar substancialmente o tratamento de cancro da mama triplo negativo e, ao mesmo tempo, minimizar a toxicidade e os efeitos secundários nos pacientes”.

Licenciada em Bioquímica pela U.Porto (2008), Sem Biomedicina Molecular na Universidade de Aveiro (2011) e o doutoramento no

Junior Researcher.

Sandra Tavares é investigadora do grupo de investigação «Cytoskeletal Regulation & Cancer» do i3S. (Foto: DR)

Da FCUP para os arrozais do Tejo

A edição deste ano das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência distinguiu outra investigadora com ligações à U.Porto. Trata-se de Edna Correia, antiga estudante da Faculdade de Ciências – licenciada em Biologia e mestre em Ecologia, Ambiente e Ordenamento do Território – e atual investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

O projeto desta alumna da FCUP tem como principal objetivo compreender até que ponto os arrozais – zonas húmidas artificiais – podem servir de alternativa para as aves que tradicionalmente dependem de zonas húmidas naturais.

Para isso, Edna Correia vai seguir, com aparelhos de GPS, algumas das espécies de aves que usam frequentemente as zonas de arrozais, como a íbis-preta (uma espécie muito abundante nos arrozais do Estuário do Tejo), determinando de que forma e com que intensidade estes e outros habitats são usados por esta espécie.

O objetivo final da bióloga de 34 anos passa por fazer uma avaliação do prejuízo causado pelas aves na produção de arroz e propor uma série de diretrizes que permitam conciliar a gestão dos arrozais com a conservação da biodiversidade.

Edna Correia vai estudar as aves que habitam os arrozais do Estuário do Tejo. (Foto: DR)

Do Minho ao Algarve

Para além de Sandra Tavares e Edna Correia, as outras medalhadas deste ano são as investigadoras Carina Soares-Cunha, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho, e Sara Carvalhal, do Algarve Biomedical Center.

Doutoradas ou pós-doutoradas nas suas áreas de especialização, as quatro investigadoras, com idades compreendidas entre os 32 e os 35 anos, foram selecionadas entre mais de 72 candidatas por um júri científico, presidido por Alexandre Quintanilha.

Cada vencedora recebe um prémio no valor de 15 mil euros, como incentivo à sua investigação e ao trabalho desenvolvido nas áreas da saúde e ambiente. Uma iniciativa que visa, de forma mais ampla, contribuir para uma ciência e uma sociedade mais inclusivas e equitativas.

A cerimónia de entrega das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência decorreu esta quarta-feira, 23 de março, em formato digital. O evento incluiu um debate sobre o tema «Science Forward: Mulheres na Ciência», no qual foram abordadas questões como a paridade de género nos núcleos de investigação e a presença – ainda pouco expressiva – de mulheres nos altos cargos das instituições científicas.

Sobre as Medalha de Honra L’Oréal

A parceria que deu origem ao L’Oréal-UNESCO For Women em Science foi celebrada em 1998, entre a L’Oréal e a UNESCO, e inspirou várias iniciativas regionais nalguns dos países em que a empresa está presente.

Portugal seguiu o exemplo em 2004, com as Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência, uma iniciativa conjunta entre a L’Oréal Portugal, a Comissão Nacional da UNESCO e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Desde 2014 já foram reconhecidas 61 jovens investigadoras em Portugal, incluindo nove investigadoras da Universidade do Porto: Sandra Sousa (IBMC, 2005), Maria José Oliveira (INEB, 2009), Joana Marques (FMUP, 2010), Inês Gonçalves (INEB, 2014),  Joana Tavares (IBMC, 2014), Sónia Melo (Ipatimup, 2015), Maria Inês Almeida (i3S, 2017), Joana Caldeira (i3S, 2019) e Ana Luísa Gonçalves (FEUP, 2020).