Estudo liderado por Carolina Lemos ajuda a explicar por que razão a doença aparece em idades muito diferentes. (Foto: DR)

Uma equipa do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, Universidade do Porto acaba de publicar dois artigos onde associa um conjunto de genes à idade em que a paramiloidose (vulgarmente designada «doença dos pezinhos») começa a manifestar-se. Estes estudos ajudam a explicar a razão pela qual o aparecimento da doença ocorre em idades muito diferentes, mesmo entre doentes da mesma família, e permitirão uma melhor previsão do início dos sintomas.

A grande maioria dos portadores de uma cópia do gene alterado para a Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF) irão manifestar esta doença neurodegenerativa, porém, o início dos sintomas varia muito de indivíduo para indivíduo, podendo começar a manifestar-se desde os 19 até aos 82 anos de idade. Os fatores que condicionam a idade de aparecimento da doença podem ser vários, incluindo ambientais e genéticos. «Apesar desta doença ser monogénica, ou seja, apenas um gene é responsável pelo seu aparecimento, muitos outros genes podem interferir na idade em que se manifesta», adianta a investigadora.

No artigo agora publicado, a equipa do i3S liderada por Carolina Lemos e Alda Sousa identifica um gene (o ATXN2), até agora nunca relacionado com a PAF, que condiciona o risco antecipado de aparecimento da doença. Segundo este estudo, determinadas formas do gene ATXN2 estão correlacionados com o desenvolvimento mais precoce da doença, devido ao envolvimento deste gene como modulador de vários processos celulares.

No outro artigo, a mesma equipa de investigação baseou-se no facto de se ter verificado que algumas variantes do gene C1Q retardavam a idade de início da PAF em famílias cipriotas e descobriu a mesma relação entre a idade de início da doença e variantes neste gene em famílias portuguesas, apesar das variantes portuguesas serem diferentes das encontradas nas famílias do Chipre. Este estudo reforça a hipótese da associação destes genes com o mecanismo de inflamação na doença.

As primeiras autoras dos artigos, Andreia Dias e Diana Santos, explicam que «não basta identificar e conhecer o gene que causa a doença, é preciso conhecer muitos outros genes, aparentemente não relacionados, que de alguma forma influenciam o aparecimento da doença». A ação destes genes ou a sua interação podem, aliás, ter efeitos cumulativos.

Para Carolina Lemos, «numa altura em que há muito espaço para novas terapêuticas, estas descobertas permitirão ajudar a perceber como a idade de início dos sintomas é modulada, o que pode vir a ajudar no follow-up dos doentes». Este tipo de estudos, sustenta a investigadora, «têm impacto a médio prazo, ao permitir uma melhor previsão da idade de início dos sintomas em cada doente e abre caminhos a futuros estudos funcionais na interação entre genes que podem vir a revelar, um dia, formas de travar o avanço da doença«.

A investigadoras sublinha ainda que «este trabalho não teria sido possível sem o envolvimento da Unidade Corino de Andrade do Hospital de Santo António do Porto, que acompanha os doentes».