When Activity Becomes Art 2 [Diálogo] A Leveza da Barricada são duas mostras inspiradas na multifacetada vida e obra do histórico investigador e professor da Universidade do Porto, mas também médico, artista, pedagogo e resistente do regime salazarista. Diferentes universos para descobrir na Casa-Museu Abel Salazar(CMAS), a partir do dia 4 de dezembro, sábado, às 16h00.

When Activity Becomes Art 2 [Diálogo] surge integrada na exposição permanente da Casa-Museu Abel Salazar e estabelece não um, mas vários exercícios de diálogo. Começamos pelo título que nos remete, de um salto, para os anos de 1960 e para uma exposição que operou, sobretudo na Europa, “uma rutura com o passado” e introduziu uma nova forma de olhar a produção artística. Falamos de Live in Your Head – When Attitudes Becomes Form: Works – Concepts – Processes – Situations – Information”, do curador e historiador suiço Harald Szeemann, na Bern Kunsthalle, em 1969, e que reuniu vários artistas emergentes de diferentes nacionalidades.

“Sem esta rutura não haveria doutoramento em artes plásticas”, arrisca Fernando José Pereira, diretor do programa de Doutoramento em Artes Plásticas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP). Introduzindo novos eixos conceptuais, esta exposição serve, ainda hoje, de pretexto para uma reflexão sobre práticas artísticas contemporâneas. E se, em 1969, eram atitudes polémicas, hoje são atividades recorrentes de pesquisa e produção de pensamento, inerentes à arte, nomeadamente a que tem como origem um doutoramento em Artes Plásticas.

Ao todo, na CMAS, vamos descobrir doze obras de artistas que decidiram voltar à Faculdade no âmbito do programa de Doutoramento em Artes Plásticas da FBAUP e que, com práticas, ferramentas e técnicas distintas responderam ao desafio de ocupar espaços e dialogar com objetos que transpiram uma biografia, um posicionamento político e cívico e uma memória muito próprias. Todo um universo que é indissociável do período que lhe foi contemporâneo. São, por isso, doze trabalhos tem têm a memória por rastilho, mas também as inquietações e o contexto deste grupo de artistas da atualidade.

When Activity Becomes Art 2 [Diálogo] estará patente até ao dia 2 de fevereiro de 2022.

A Leveza da Barricada

Patente no Pavilhão Calouste Gulbenkian está, por sua vez, o encontro de Paulo Luís Almeida com os desenhos, a pastel de óleo, que Abel Salazar fez das carvoeiras do Porto. São desenhos produzidos nos finais dos anos 1930 e que Paulo Luís Almeida, também docente da FBAUP, associa a uma série de intervenções de rua que realizou no Bairro do Amial (Porto), inaugurado em 1938 pelo Ministério das Corporações, como parte do programa de “habitação económica”,  desenvolvido pelo Estado Novo.

Num exercício de experimentação da memória, Paulo Luís Almeida afirma que os desenhos que produziu para A Leveza da Barricada foram “alimentados” pela sua “experiência do que aconteceu, mas indo para além dela, ao condensarem elementos factuais com ficções plausíveis”. Recorda Gustave Flaubert, quando o escritor sugeria que “o prazer se encontra primeiro na antecipação e depois na memória”. Ao surgirem antes e depois da ação, os desenhos obedecem a uma lógica semelhante: “a antecipação da ação e a memória da ação são por vezes mais importantes do que a ação em si”.

“O Muro”, de Paulo Almeida, inserido na exposição “A Leveza da Barricada”, patente no Pavilhão de Exposições da CMAS

Paulo Luís Almeida nasceu em Moçambique. É artista, professor associado na FBAUP e investigador no i2ADS – Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade. Desenvolve ações que têm por base a observação de gestos e atividades quotidianas, sendo que a relação entre as práticas do desenho e os contextos performativos passou a contaminar a sua obra.

A Leveza da Barricada está inserida no ciclo O desenho contemporâneo em diálogo com a obra de Abel Salazar, com curadoria de Sílvia Simões, que pretende colocar a obra de Abel Salazar numa relação dialógica com desenhos de artistas contemporâneos. Para descobrir até 29 de janeiro de 2022.

Recorde-se que, até ao final do dezembro, poderá ainda conhecer Clube Recreativo: a Caricatura no percurso académico de Abel Salazar, também patente na CMAS.

Com entrada livre, as exposições podem ser visitadas de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 13h00 e das 14h30 às 18h00; e aos sábados, das 14h30 às 17h30. Encerram aos domingos e feriados.