À primeira vista é “apenas” um jardim como muitos outros. Mas as plantas que povoam o Jardim Fenológico do Porto cumprem também um importante papel para a Ciência. Trata-se, afinal, do único jardim fenológico ativo em Portugal, está localizado no Instituto Geofísico da Universidade do Porto (IGUP) e integra a Rede Europeia de Jardins Fenológicos Internacionais (IGP, na sigla em inglês).

A fenologia é o ramo da ciência que relaciona fenómenos periódicos da natureza e os ciclos anuais (estações do ano), tendo em conta as variações climatéricas. Com plantas geneticamente iguais dispersas por diferentes localizações geográficas, os jardins fenológicos têm um papel fundamental no estudo e na observação destas espécies.

No IGUP estão atualmente em observação seis espécies de arbustos e de árvores ornamentais, a maioria provenientes do Norte da Europa. O jardim esteve ativo até 2008 e foi reativado em 2017. E como é que o IGUP recebe estas espécies? São enviadas pelo correio, a partir da sede, na Alemanha, devidamente acondicionadas e prontas a cultivar.

De forma regular, em dias alternados, são recolhidos registos destas plantas, posteriormente inseridos na plataforma online da IPG. Numa tabela de observações, é colocada a data em que cada espécie entra num novo Estado Fenológico. Os dados são depois analisados pela sede e comparados com os de outros jardins europeus.

A localização deste jardim é, de resto, privilegiada para a Rede IGP, devido à sua posição a sudoeste e de baixa altitude na Europa. Esta rede integra mais de 60 jardins ativos, sendo que o do Porto é o único da Península Ibérica e um dos mais antigos, com início do registo em 1968.

Uma das espécies no Jardim Fenológico do IGUP é o Lilazeiro chinês (Syringa chinensis L.). (Foto: IGUP)

Um dos principais objetivos destes jardins é o estudo dos efeitos a longo prazo das alterações climáticas. Afinal, pelas plantas, e não só, conseguimos perceber que as quatro estações já não são o que eram. “Temos verificado, por exemplo, que há plantas que têm flor duas vezes no ano”, conta a diretora do IGUP, Helena Sant’Ovaia. A fenologia é um instrumento de fácil observação e de custos reduzidos.

Os objetivos científicos dos jardins incluem também a recolha, análise e comparação de dados fenológicos; o mapeamento das variações no desenvolvimento da flora; o estudo do impacto ambiental dos ecossistemas e da adaptação das espécies.

Fase fenológica da maturação do fruto na Faia Europeia (Fagus sylvatica L.). (Foto: IGUP)

Ao todo são sete as fases fenológicas observadas neste jardim fenológico: abrolhamento (os rebentos das folhas saem do gomo), rebentos de maio (os primeiros rebentos das plantas coníferas, como os pinheiros, são visíveis), início da floração (primeiras flores abertas e/ou a emitir pólen), plena floração (50% das flores estão abertas e/ou e emitir pólen), frutos maduros (maturação do fruto visível em três locais na planta), coloração de Outono (50% das folhas mudaram de cor para castanho amarelado) e queda das folhas (mais de 50% das folhas da planta observada caíram).

Entre as espécies presentes no Jardim Fenológico do Porto estão o Larício europeu (Larix decidua Mill.), o Pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris L.), a Faia-europeia (Fagus sylvatica L.), Choupo-tremedor (Populus tremula L.), Salgueiro (Salix acutifolia Willd.), Forsythia suspensa Thunb e Lilazeiro chinês (Syringa chinensis L.).