Fazem equilibrismo, escondem-se entre a folhagem, ou a lançam “vagas de lume”… As propostas artísticas são diversas, assim como são também criativas as estratégias de sobrevivência dos insetos. Artistas nacionais e internacionais foram convidados para apresentarem trabalhos sobre biodiversidade, tendo como principal fonte de inspiração uma população muito específica: os insetos. E assim nasceu o Insectário – Considerações artísticas , título da exposição de arte contemporânea que vai estar patente ao público a partir de 8 de maio, na Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (ao Campo Alegre), numa iniciativa inserida na 5.ª Bienal Internacional de Arte Gaia 2023 | Bienal de Causas.

O ensurdecedor silêncio dos equilibristas

Com dificuldade, três insetos equilibram-se em cima de um arame, atado entre as cúpulas de dois edifícios. São os Equilibristas, chamou-lhes Juan Ricardo Nordlinger. O artista argentino coloca-nos perante o frágil “equilíbrio dos insetos” que fazem o “impossível para não caírem num mundo que tende para o seu desaparecimento”. No dia-a-dia, enfrentam a “poluição, as mudanças de habitat, os pesticidas, a falta de água e o aquecimento global”. Em cima do arame, periclitantes, estão os insetos, tantas vezes esquecidos, e com eles a fragilidade da nossa própria sobrevivência.

Tão esquecidos quão silenciosos, diria outra das artistas convidadas, Catarina Rocha. “Há um silêncio ensurdecedor, de consequências já irreversíveis, na drástica diminuição do número da população global de insetos e de alguma da sua diversidade em todo o mundo”. O ruído das minhas folhas é a minha linguagem fala-nos das “camadas ancestrais de paciência, resiliência, força e adaptabilidade, qual poema rebelde e constante”.

Catarina Rocha apresenta-nos “aguarelas manchadas de cores aguadas, ora vibrantes ora telúricas, aludindo à diversidade de ecossistemas que nos exigem proteção”. Lugar onde exércitos operam “os seus mistérios, garantindo a regeneração pela compostagem, a proliferação saudável pela aniquilação de pragas e a polinização pela disseminação — atividades basilares para a manutenção da biodiversidade no planeta”.

Para título, Catarina Rocha recorreu às palavras Derek Walcott: The noise my leaves make is my language.

“O ruído das minhas folhas é a minha linguagem”, Catarina Rocha. (Foto: DR)

Vaga-lumes poéticos

Maria Beatitude traz por sua vez Acobertados por entre a folhagem. É um trabalho que repõe a escala no reino da biodiversidade. Ilustra a importância hierárquica de quem, por norma, passa até despercebido. Aumentando, exagerando bantante o tamanho real, a artista retrata alguns insetos, sublinhando assim, a respetiva importância no equilíbrio do ecossistema. Uma chamada de atenção em jeito de lupa que amplia o tema e aproxima o observador do fenómeno. São ecossistemas tantas vezes esquecidos. Sem o recurso à lupa… quase sempre, invisíveis.

Lamprohiza Mulsantii ou a Sobrevivência dos Vaga-Lumes. Ampliação analógica em filme radiográfico é o título do trabalho que o artista plástico e desenhador de luz Tomás Ribas nos vai trazer. Identificado apenas em Espanha e em França, foi recentemente observado no Parque Biológico de Gaia. De quem falamos? Do Pirilampo-Pequeno-de-Lunetas (Lamprohiza Mulsantii).

O trabalho deste artista brasileiro pretende chamar a atenção para um dos grandes perigos que afetam a espécie: a iluminação artificial que impede que machos e fêmeas se identifiquem e reproduzam. Para esta obra transformou “os faróis dos carros que trafegam pelas laterais do Parque Biológico, indiferentes aos dramas desses insetos, em pirilampos poéticos”.

A fatalidade da experiência

A vulnerabilidade da experiência animal e humana e a tragédia anunciada pelo caracter efémero de cada respiração, não estarão ausentes. Robert Wiley traz-nos We Are All Still Tied To Our Mother’s Apron Strings. Uma instalação que de uma malha metálica faz um avental onde suspende lâmpadas, feitas de vidro soprado, habitáculos da fatalidade animal. Os materiais utilizados são familiares, o que nos baralha, por inusitado, é o contexto no qual são apresentados.

Por fim, Graciela Machado traz-nos pano roto. Uma instalação constituída por fotogravura sobre papel químico e matriz de zinco.  Fala-nos da “atenção dada às coisas, do quotidiano e de um sentido de perda que não se consegue estancar”.

Entrada livre e visitas guiadas

Com curadoria de Fátima Vieira, Vice-Reitora com o pelouro da Cultura da U.Porto, o Insectário – Considerações artísticas inaugurada às 18h00 do dia 8 de maio. Depois desse momento, a exposição estará de portas abertas ao público até 8 de julho, com entrada livre.

Ainda no âmbito desta exposição, vão ser realizadas visitas ao Jardim Botânico focadas em insetos, diurnas e noturnas, orientadas pelo curador da Coleção de Entomologia do MHNC-UP, José Manuel Grosso-Silva.

As visitas diurnas realizam-se dias 10 e 24 de maio; 7 e 21 de junho e 5 de julho. As noturnas estão já agendadas para 27 de maio e 17 de junho.

A participação é gratuita, ainda que sujeita a inscrição prévia através do e-mail [email protected]