A solução desenvolvida consiste numa caixa de comunicações que pode ser instalada em embarcações e estações de comunicações costeiras. (Foto: DR)

Imagine-se uma operação de busca e salvamento em alto mar, onde as equipas de terra e de mar podem estar em contacto permanente através de um sistema de comunicação sem fios de banda larga e baixo custo, usando para isso as mais modernas aplicações multimédia. Esta é apenas uma das possíveis aplicações da tecnologia – 100% portuguesa – criada no âmbito do projeto MareCom, liderado pela Wavecom, e que contou com participação do INESC TEC, do Centro de Investigação Naval (CINAV) da Marinha Portuguesa e da Ubiwhere.

Desenvolvida ao longo de 30 meses, a solução agora testada com sucesso na Base Naval de Lisboa pela Marinha Portuguesa apresenta-se como uma alternativa a comunicações via satélite e às tecnologias VHF ainda hoje utilizadas. Na prática, permite servir as comunidades que operam em ambiente marítimo, tais como a Marinha, as frotas de pesca e os transportes marítimos, aumentando assim a sua inclusão digital, níveis de bem-estar a bordo e a eficiência e eficácia operacionais, através do acesso a novos serviços e aplicações.

“A solução tecnológica que desenvolvemos consiste numa caixa de comunicações que pode ser instalada em embarcações e estações de comunicações costeiras, juntamente com as antenas adequadas. Na demonstração final do protótipo da solução na Base Naval de Lisboa foram atingidos débitos binários superiores a 10 Mbit/s, muito acima dos valores típicos das comunicações via satélite e sem a latência elevada associada”, explica Rui Campos, coordenador da área de redes sem fios do Centro de Telecomunicações e Multimédia do INESC TEC.

Usando a solução desenvolvida foi possível realizar uma vídeo conferência com terra a partir de uma embarcação da Marinha Portuguesa a navegar no Estuário do Tejo e demonstrar uma aplicação de vídeo streaming HD em tempo real. Em cenário operacional, a tecnologia poderá atingir alcances até dezenas de milhas da costa, quando usados níveis de potência de transmissão adequados e locais apropriados para a instalação das estações de comunicações costeiras. Atualmente, as soluções digitais em ambiente marítimo estão limitadas a comunicações celulares próximo da costa ou via satélite com custos elevados, elevada latência e débito binário ainda baixo.

“A Marinha Portuguesa está muito interessada na solução para garantir comunicações de banda larga em zonas costeiras e na vizinhança dos portos do Continente e Ilhas. Têm também existido conversações exploratórias com os mercados da Índia e Cabo Verde para que esta solução seja explorada. Já houve contactos com o The Environment Research Institute (TERI), o National Institute of Oceanography (NIO) e o National Institute of Technology (NIT) Goa para explorar novos negócios através desta solução. O TERI está particularmente interessado em fazer um projeto de uma lota virtual”, refere o investigador.

A solução, que pode também ser aplicada ao setor das pescas e permitir explorar negócios em eólicas offshore e plataformas petrolíferas, baseia-se na combinação de várias tecnologias. Entre elas incluem-se uma antena multissetorial, um novo mecanismo de gestão das comunicações em meio partilhado, um novo protocolo de encaminhamento para o estabelecimento de redes de comunicações entre embarcações e uma aplicação de partilha de conteúdos tolerante a ligações intermitentes.

A antena multissetorial consegue, de acordo com a orientação da embarcação em relação à estação de comunicações em terra, selecionar automaticamente o setor que maximiza a qualidade de ligação mar-terra. O mecanismo de gestão das comunicações garante o aumento de até 40% no débito binário da ligação sem fios face às soluções existentes e atualmente apenas usadas em ambiente terrestre. O novo protocolo de encaminhamento adequa-se às características específicas do meio marítimo e permite que cada embarcação possa funcionar como repetidor de sinal para aumento do alcance das comunicações a partir de terra. Por último, a aplicação de partilha de conteúdos permite às embarcações sincronizar conteúdos entre si e com um serviço centralizado, incluindo informação relacionada com a missão da embarcação, informação meteorológica e relatórios, dados e outra informação processada/gerada a bordo.

O projeto MareCom foi financiado pelo Compete 2020, para o investimento realizado pela Wavecom, Ubiwhere e INESC TEC, e pelo Lisboa 2020, para o investimento realizado pela Marinha e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. O valor de investimento global do MareCom é de 1.005.402 euros, com um apoio comunitário de 651.423 euros.