O que acontece às células durante o processo de cicatrização? É isso que uma equipa de investigadores do INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial tem vindo a tentar descobrir, recorrendo a ferramentas numéricas para estudar a angiogénese, processo que ocorre durante o período inicial de cicatrização de uma ferida.

Deste estudo, surge agora um inovador modelo computacional que mimetiza o padrão de rede capilar, semelhante ao obtido em estudos in vivo. “Entender como a difusão de fatores químicos afeta a formação de novos vasos sanguíneos, mapear a migração das células endoteliais e o processo de ramificação dos capilares, torna-se agora mais fácil”, explica Ana Guerra, investigadora envolvida no projeto.

Esta conquista traduz-se numa melhor compreensão dos mecanismos subjacentes à cicatrização, e também na capacidade de melhor conceber a ação de terapias e fármacos. Conhecimento que servirá de impulso ao desenvolvimento de novas e melhores técnicas para a regeneração dos tecidos e cicatrização de feridas.

Estudo terá implicações importantes no tratamento de feridas

A angiogénese consiste no desenvolvimento de novos vasos sanguíneos a partir de vasos pré-existentes num tecido vivo. É um processo fisiológico, que ocorre ao longo de toda a vida, e garante o aporte suficiente de oxigénio e nutrientes, essencial para a correta função celular e para o correto processo de cicatrização.

“Um fornecimento insuficiente de sangue para a ferida é provavelmente o principal fator a prejudicar o processo de cicatrização. Por este motivo é extremamente importante o papel da angiogénese neste processo”, sublinha Ana Guerra.

O tratamento das feridas é uma das preocupações mais antigas da medicina, e ainda hoje representa um problema social e económico relevante. Só no sistema nacional de saúde britânico (NHS), estima-se um gasto anual entre 4,5 a 5,1 biliões de libras no tratamento de feridas agudas e crónicas, bem como das comorbilidades associadas. Razão pela qual é tão importante avançar o estado do conhecimento científico nesta área.

Face ao sucesso deste trabalho, a investigadora do INEGI avança que “os próximos passos passam por estudar o papel das ações mecânicas neste processo”.