Foi num Salão Nobre da Reitoria repleto que a Universidade do Porto distinguiu esta sexta-feira os “vencedores” da 12.ª edição do IJUP – Encontro de Investigação Jovem da Universidade do Porto. Foi a segunda vez que a instituição premiou as melhores comunicações orais e por poster realizadas por estudantes de 1º, 2º ciclo ou Mestrado Integrado da instituição, que serviram para dar a conhecer os trabalhos de investigação desenvolvidos ao longo do último ano.

Na abertura da cerimónia, Pedro Rodrigues, Vice-Reitor para a Investigação, Inovação e Internacionalização da U.Porto, congratulou-se com o “número elevado de participantes”, mas também com “a qualidade das comunicações e pela diversidade das áreas científicas envolvidas” no IJUP 2019.

Para aquele responsável, o Encontro, que se realizou no passado mês de fevereiro, “cumpriu com êxito a sua missão de promover e valorizar a investigação jovem” na instituição, mas é também mais um sinal evidente da “própria evolução da investigação científica na Universidade do Porto, também ela em crescendo de qualidade, sofisticação e multidisciplinaridade.” E essa evolução traz benefícios para todos, uma vez que também os estudantes poderão assim “desenvolver os seus projetos num ecossistema científico de excelência e com dimensão internacional.”

Seguiu-se a entrega os diplomas aos 46 jovens investigadores que mais se destacaram no IJUP 2019. As áreas mais representadas foram as de Ciências da Saúde, com dez distinguidos, e de Ciências Biológicas, com oito. De resto, houve cinco premiados em Química, três em Ciências do Desporto, três na área de Psicologia e Ciências da Educação, três em Ciências Sociais e Humanas, três em Engenharia, três na área Agroalimentar e Ambiente, dois na área de Criminologia e Direito, dois em Artes, dois na área de Matemática e Física, um em Arquitetura e um na área de Economia e Gestão.

“Já leio os artigos científicos com outros olhos”

Distinguida na área das Ciências do Desporto, Ana Margarida conjuga os estudos com o desporto ao mais alto nível. (Foto: U.Porto)

Uma dos vencedores do dia foi Ana Margarida Lopes, estudante de 27 anos que, após concluir a licenciatura em Ciências da Nutrição na Faculdade de Ciências da Nutrição da U.Porto (FCNAUP), prosseguiu os seus estudos no Mestrado em Treino de Alto Rendimento Desportivo na Faculdade de Desporto (FADEUP). Foi aí que realizou a investigação que apresentou no IJUP, e cujo objetivo passava por “verificar qual o efeito da adição de uma proteína a uma bebida com hidratos de carbono antes do exercício físico”, baseada numa amostra de atletas da disciplina de 3 mil metros planos.

Ana Margarida explica que as conclusões a que chegou revelam que essa adição “não influencia os parâmetros associados ao consumo o oxigénio nem a performance.” Contudo, “poderá trazer benefício, caso o atleta realize um segundo exercício. Ou seja, poderá trazer benefício na sua recuperação do atleta e atingir uma melhor performance no segundo exercício.”

A opção por esta área de estudos tem uma razão de ser muito evidente. “Porque gosto de desporto, porque gosto de nutrição. E também porque sou atleta.” Mas não uma atleta qualquer. Ana Margarida já foi campeã nacional universitária de Corta-mato, de Estrada e dos 3 mil metros no Nacional Universitário de Atletismo em Pista Coberta. Ainda assim, com tanta experiência acumulada e um palmarés tão recheado, admite que no dia da apresentação sentiu um certo “nervosismo incial, que é normal.” Maior do que antes de uma grande prova? “(risos) Acho que é igual.”

Para a estudante, a experiência no IJUP foi uma novidade, mas foi mais uma vitória, para si e para todos. “Foi muito enriquecedor, na medida em que conseguimos saber como é que são realizados os trabalhos de investigação. Acho que é uma iniciativa bastante interessante, porque permite, na grande maioria dos casos, o primeiro contacto com a apresentação de trabalhos científicos, trocar ideias e experiências com outros investigadores”.

As passadas são agora mais confiantes. “Agora, a ler os artigos científicos já olho com outros olhos” e com “uma análise crítica maior”, de modo a “filtrar de melhor forma a informação”, afirma. Pode ser este o início de outra promissora carreira, agora enquanto investigadora? “Vamos ver o que é que o futuro nos reservará…”

Ao ritmo do jazz

Trabalho sobre a imagética de John Coltrane valeu distinção a Bruno Vitorino Aguiar no domínio das Artes. (Fotos: U.Porto)

Numa área de estudo oposta, foi destacada uma comunicação oral dedicada ao tema “The Migration of Images: From King David Musician to Saint John Coltrane.” O autor é Bruno Vitorino Aguiar, de 35 anos, estudante do Mestrado em História da Arte, Património e Cultura Visual na Faculdade de Letras (FLUP). “Eu sou músico, trabalho com música improvisada. E John Coltrane é uma referência que é inescapável para quem trabalha com improvisação”, conta.

Brasileiro natural do Recife, Bruno é contrabaixista no Nebulosa Quinteto. Enquanto fã de música jazz, revela que “essa imagem de Coltrane santo sentado num trono segurando o seu saxofone e expondo um salmo – que é um texto religioso que ele escreveu para o “A Love Supreme”, a sua obra prima – sempre me chamou a atenção: por que ela está aí? Será que ela era, de certa forma, um delírio?”

A unidade curricula de Imagem e Contexto I, da FLUP, foi o princípio da resposta às suas dúvidas. “Eu fui ver como essa construção do John Coltrane Santo veio – se é que veio – de uma interpretação ou de uma migração da imagem do Rei David Músico, que foi muito forte na iconografia medieval e que se espraiou e teve uma continuidade ao longo da história.” E a verdade é que a sua investigação lhe permitiu concluir que, com efeito, “há uma conexão entre essas imagens e que essa construção de um Coltrane Rei vai buscar ao rei David essa sua construção imagética e temática.”

A distinção deixou-o “honrado”. “A experiência foi incrível. As apresentações, no geral, foram muito boas, muito enriquecedoras, a mediação dos professores foi óptima, os comentários foram construtivos.” E para uma estreia num “evento académico assim, com essa formalidade”, a experiência foi um sucesso. Elogios que aproveita para estender também à instituição: “a vivência académica na Universidade do Porto é absolutamente fantástica e estimulante. O curso é muito bom, a cidade é incrível, é linda. Você pode fruí-la a pé muito tranquilamente, interagir com a arquitetura, sentir um pouco essa paisagem e construir uma imagem sua da cidade do Porto. Apropriá-la sentimentalmente. É enriquecedor e estou muito feliz.”

O IJUP 2019 termina assim e promete voltar no próximo ano, para a sua 13.ª edição.