Uma equipa de Investigadores do Laboratório de Farmacologia e Neurobiologia do Centro de Descoberta de Fármacos e Terapias Inovadoras (LFN-MedInUP) do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS-UP) publicou recentemente um artigo na conceituada revista Stem Cell Research and Therapy, no qual demonstra ser possível o rejuvenescimento terapêutico das células osteoprogenitoras da medula óssea, cujo envelhecimento está associado à perda de massa óssea (osteoporose) e ao aumento exponencial da incidência de fraturas em mulheres após a menopausa.

No trabalho agora publicado, os investigadores do ICBAS identificaram níveis elevados de expressão e atividade de um biomarcador de mau prognóstico relacionado com a perda de massa óssea, a enzima NTPDase3, em células osteoprogenitoras isoladas da medula óssea de mulheres pós-menopáusicas, comparativamente com as provenientes de mulheres mais jovens e de homens da mesma faixa etária.

Esta descoberta vai ao encontro dos resultados de trabalhos anteriores publicados pelo mesmo grupo de investigação, que mostraram que o aumento da densidade da enzima NTPDase3 na membrana daquelas células limita a sua diferenciação osteogénica. Um fenómeno que se associa por sua vez a uma perda progressiva da capacidade regenerativa do osso por reduzir os níveis de ATP (adenosina trifosfato) no microambiente e, consequentemente, a formação de matriz e deposição de cálcio nos ossos.

Recorrendo a metodologias inovadoras, tais como o silenciamento génico através da utilização de moléculas de ARN de interferência transportado por vetores virais e a utilização de agentes biológicos (anticorpos monoclonais) seletivos para a enzima NTPase3, a equipa internacional liderada pelos investigadores José Bernardo Noronha-Matos e Paulo Correia-de-Sá demonstrou ser possível o rejuvenescimento terapêutico das células osteoprogenitoras da medula óssea, prevenindo deste modo a perda de massa óssea e o risco de fraturas em mulheres pós-menopáusicas.

Para o investigador José Bernardo Noronha-Matos, o trabalho agora publicado é “pioneiro” e “abre “novas perspetivas para o tratamento da osteoporose, uma doença muito incapacitante que é considerada pela comunidade científica como a epidemia do século XXI”.

O também professor do ICBAS acrescenta, ainda, que “a manipulação farmacológica (e não farmacológica, em perspetiva) da atividade desta enzima permite reequilibrar a remodelação óssea em mulheres idosas em risco de fratura”.

(Foto: DR)

Da teoria à prática

A prova de conceito do projeto está neste momento a decorrer através da realização de ensaios pré-clínicos em modelos animais de lesão óssea, no âmbito de um outro projeto em curso, também financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

A translação clínica das descobertas realizadas por esta equipa multidisciplinar encontra-se facilitada pela participação de especialistas dos Serviços de Ortopedia e Traumatologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia-Espinho e do Centro Hospitalar Universitário de Santo António em todas as fases do projeto, desde a colheita das amostras à publicação dos resultados obtidos.

O trabalho contou ainda com o importante contributo da equipa do investigador Jean Sévigny, da Universidade de Laval (Québec, Canadá), em cujos laboratórios foram desenvolvidos os anticorpos monoclonais específicos contra a enzima NTPDase3.