Uma equipa de investigadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto e do Serviço de Neurologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP) confirmou que a neuropatia periférica afeta cerca de 40% dos doentes com Parkinson, resultando em alterações funcionais da mobilidade e do equilíbrio. Uma grande parte destas neuropatias está relacionada com níveis alterados de glucose (25%) ou de vitaminas B6 e B12 (27.5%), o que faz com que este problema possa vir a ser alvo de tratamentos dirigidos. A descoberta mereceu o reconhecimento da prestigiada revista científica BRAIN.

O trabalho resultou de uma parceria indústria – academia integrada no âmbito do projeto europeu KEEP CONTROL (Innovative Training Network – ITN), parceria esta que permitiu a utilização de sensores de movimento (wearable health-technology) para a avaliação da marcha e equilíbrio nos doentes, essenciais para a análise dos distúrbios no movimento.

Nos quase 100 participantes do estudo, para além da avaliação clínica, foi também analisada detalhadamente a capacidade de condução dos nervos, a densidade das fibras nervosas na pele e vários parâmetros metabólicos.

Os resultados deste trabalho podem abrir caminho à identificação dos doentes de Parkinson que tenham algum tipo de neuropatia e com isso identificar a causa da mesma. O tratamento individualizado poderá permitir melhorar o equilíbrio e mobilidade dos doentes, podendo igualmente contribuir para a prevenção de riscos associados (quedas) e para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.

Para o coordenador do trabalho, Luís Maia, médico neurologista no CHUP, docente do ICBAS e investigador do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da U.Porto (i3S), “a junção da experiência clínica do Serviço de Neurologia do CHUP com a tecnologia dos sensores proporcionada pela Universidade de Kiel (Alemanha) foram essenciais para o sucesso desta investigação”.

Do estudo fizeram parte os serviços de Neurologia, Neurofisiologia e Neuropatologia do CHUP. “Foi muito desafiante e interessante juntar vários serviços do hospital e experienciar a dinâmica criada”, destaca Marta Corrà, estudante no programa doutoral em Ciências Biomédicas do ICBAS e primeira autora do trabalho.

Para a fisioterapeuta e mestre em Neurociências, esta experiência veio também ao encontro da sua “vontade em desenvolver investigação na área clinica robótica”.

O tratamento individualizado poderá permitir melhorar o equilíbrio e mobilidade dos doentes. (Foto: DR)

A neuropatia periférica

A neuropatia periférica é uma condição comum que afeta os nervos periféricos, responsáveis por permitir a troca de informação entre o sistema nervoso central (cérebro e espinal medula) e as outras partes do corpo.

A neuropatia periférica traduz o dano nos nervos, e manifesta-se por sintomas sensitivos (perda ou alteração da sensibilidade, dor nas extremidades) ou motores (instabilidade postural, perda de força muscular). Por vezes, os sintomas são subtis e podem não ser diagnosticados.

Existem causas tratáveis, como a deficiência de nutrientes, alterações metabólicas, inflamatórias ou tóxicas, passiveis de uma intervenção que pode parar ou até reverter a evolução da doença.