É um investimento na inovação pedagógica, mas também a resposta a uma nova realidade trazida pela pandemia. O Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto está em processo de aquisição de vários simuladores com doentes virtuais em três dimensões (3D), para uso no ensino clínico da Medicina, já a partir do ano letivo 2020/2021.

Para Henrique Cyrne Carvalho, diretor do ICBAS, encontrar soluções para os futuros médicos e complementar essa formação com recurso a técnicas avançadas é uma urgência que se coloca hoje, com ou sem Covid-19. “Independentemente da contingência em que vivemos, havia já a necessidade de um reforço da simulação médica na formação pré-graduada e pós-graduada”, refere aquele responsável, em declarações à agência Lusa.

Por enquanto, está já a ser negociada com uma empresa portuguesa a aquisição de 25 simuladores com doentes virtuais em 3D para os serviços do Centro Hospitalar e Universitário do Porto (CHUP) onde é administrada formação pré e pós-graduada do Instituto.

“São modelos absolutamente próximos da realidade que permitem a aprendizagem sem a invasão do doente”, explica Cyrne de Carvalho, adiantando que os simuladores permitirão aos estudantes aprender técnicas clínicas, tais como, o toque retal, vaginal, auscultação cardíaca e pulmonar.

À semelhança dos doentes “de carne e osso”, os novos pacientes virtuais permitirão ainda simular determinados “enquadramentos clínicos”, tais como apresentar falta de ar ou dor no peito, possibilitando aos estudantes a elaboração da “história clínica” e a realização de exames auxiliares de diagnóstico.

O investimento nos simuladores será suportado pelo ICBAS e pelo Centro Hospitalar Universitário do Porto (Santo António), sendo que cada equipamento custará cerca de 7.500 euros. Já a licença para a utilização dos casos clínicos ronda os 30 a 40 mil euros anuais.

Por um ensino de proximidade

Para além do reforço tecnológico, o novo ano letivo no ICBAS será ainda marcado por uma redistribuição das turmas, de forma a salvaguardar questões de segurança relacionadas com a Covid-19, mas também a dar continuidade ao ensino de proximidade com os doentes, imagem de marca do Instituto.

“Todos nós identificamos a necessidade da proximidade dos estudantes com os doentes. Não podem ser criados médicos de aquário. Têm de aprender que isto é uma das contingências da profissão que escolheram e devem ser capazes de participar num esforço para se tratar o doente, apesar das dificuldades”, nota Henrique Cyrne Carvalho.

Na prática, a reorganização planeada vai traduzir-se na divisão das turmas práticas, de modo a que cada aula não tenha mais do que quatro estudantes. No caso das aulas teóricas e teórico-práticas presenciais, está igualmente prevista uma divisão das turmas.

Com o regresso das aulas presenciais, estas poderão ainda ser gravadas e disponibilizadas nas plataformas da U.Porto, de modo a que todos os estudantes possam beneficiar dos seus conteúdos formativos.