Imagem de neurónios em microscopia de fluorescência para identificação de axónios lesionados (a verde). A vermelho estão marcadas as mitocondrias.

Uma equipa do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), da Universidade do Porto identificou o transporte de componentes celulares dentro dos neurónios como o alvo principal na regeneração de lesões no sistema nervoso. Publicado na última edição da prestigiada revista The Journal of Neuroscience, este trabalho inovador abre novos caminhos para resolver um dos grandes desafios biomédicos: a razão pela qual os neurónios da espinal medula, ao contrário dos do sistema nervoso periférico, são incapazes de regenerar os axónios e ligações perdidas durante uma lesão.

O estudo  teve como ponto de partida a incapacidade da maioria dos neurónios do sistema nervoso central (conjunto do encéfalo e da medula espinhal) de regenerar os finíssimos prolongamentos – axónios – que os ligam a outros neurónios (células constituintes do sistema nervoso ), permitindo que a informação percorra rapidamente o caminho entre o nosso corpo e o cérebro e vice-versa. Esse constitui o principal impedimento à recuperação de muitas lesões na espinal medula, em consequência de traumatismos que resultam na maioria das vezes na perda de sensibilidade e na perda de capacidades motoras.

Fernando Mar é o primeiro autor do artigo assinado pela equipa liderada por Mónica Sousa.

Os olhos dos investigadores viraram-se por isso para os neurónios que têm axónios fora do sistema nervoso central e axónios dentro. Esta dupla posição confere-lhes uma plasticidade interessante, pois recuperam de lesões primárias que sofram na parte periférica mas não das da parte central. Porém, se sofrerem lesões múltiplas e sequenciais, mostram ter uma capacidade aumentada de regenerar o ramo central. De facto, se tiverem sofrido uma lesão prévia no seu ramo periférico, o ramo central do neurónio também ganha capacidade de regenerar. Desde esta observação, desdobram-se as buscas para perceber o que se altera no neurónio aquando de uma lesão periférica que lhe permite recuperar uma capacidade que parece perdida no sistema nervoso central.

O estudo publicado pela equipa liderada por Mónica Sousa mostra que, quando a lesão periférica ocorre, há um aumento do transporte de componentes celulares, nomeadamente de proteínas, organelos e vesículas. Mas este fenómeno não fica restrito ao axónio periférico lesionado, estendendo-se ao axónio central. Se este último, o axónio central, “sofrer uma lesão subsequente, uma lesão da medula espinal, toda a maquinaria necessária a montar a regeneração axonal já estará presente e funcional”, explica Fernando Mar, primeiro autor do trabalho.

Segundo Mónica Sousa, o maior contributo deste trabalho é “identificar o transporte axonal como um alvo importante da investigação em regeneração axonal”, adiantando que “poderá ser o futuro no desenvolvimento de terapias com o fim de aumentar a regeneração axonal no sistema nervoso central adulto”.